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terça-feira, 15 de março de 2022

Após reajuste do diesel, empresas de transporte público intermunicipais e de Natal ameaçam reduzir frota

Empresas cobram soluções ao Poder Público sugerem aumento no preço das passagens para compensar os custos adicionados com o aumento do combustível. Seturn ameaça ainda devolver linhas à STTU.
População ficou à espera dos ônibus nas ruas de Natal — Foto: Kleber Teixeira/Inter TV Cabugi

O aumento do preço do diesel, anunciado pela Petrobras no mesmo dia do aumento da gasolina e do gás de cozinha, pode mexer também com o transporte público de Natal e intermunicipal, inclusive na quantidade de ônibus circulando.

A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor) e o Sindicato das Empresas dos Transportes Urbanos (Seturn) estão se reuniram com os entes públicos por entenderem que os custos atuais com combustível já prejudicam a operação das linhas em Natal e no RN.

Entre as propostas sugeridas pelas entidades está: um possível reajuste da passagem, o Poder Público subsidiar parte da operação ou ceder óleo diesel às empresas.

Sem uma das mudanças, a Fetronor diz que a frota atual de ônibus pode ser reduzida - a medida também é avaliada pelo Seturn. Hoje em dia a frota é de 90% em Natal e nas linhas intermunicipais - nunca retomou à normalidade desde o início da pandemia.

“O governo tem que entender que a situação é gravíssima. As empresas estão insustentáveis e não sabem como manter o serviço. Alguma medida precisa ser tomada”, falou o presidente da Fetronor, Eudo Laranjeiras.

“Só esse aumento da sexta-feira, representa na tarifa em torno de 9 a 10%. Então, nós estamos precisando urgentemente de alguma solução. Se eu só posso rodar com 20% da frota, eu vou rodar com isso. Isso em detrimento da qualidade, do passageiro", afirmou.

As empresas do transporte público de Natal também alegam aumento de 10% nos custos por conta do diesel. O Seturn disse que cobrou à Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) e à prefeitura nesta segunda-feira (14) uma forma de compensar esse aumento nos custos, também solicitando subsídios ou reajuste de tarifas à prefeitura.

"Foi comunicado hoje à STTU que tem que fazer essa redução [no consumo de diesel] e evidentemente a pasta, como órgão gestor, deve apresentar esse planejamento. As empresas estão aguardando em caráter de urgência, inclusive pedindo audiência com o prefeito, pra resolver isso de imediato", disse o consultor técnico do Seturn, Nilson Queiroga.

Segundo Queiroga, pode haver a devolução de linhas das empresas para a prefeitura caso nenhuma medida seja tomada, já que haverá prejuízo nas operações. Há possibilidade de reduzir cerca de 10 linhas na cidade. Durante a pandemia, 26 já haviam sido reduzidas - atualmente 50 linhas circulam.

"Parte do sistema de Natal vai ter que parar. As linhas mais deficitárias as empresas vão ter que devolver à STTU. As empresas não podem esperar por promessas de decisões. A qualquer dia, momento [podem parar]", falou o consultor técnico.

O que diz o Poder Público

Em nota, o governo do RN disse que desde 2020 tem "concedido benefícios para viabilizar a atividade e, no fim do ano passado, decidiu prorrogar por mais um ano a isenção de ICMS sobre o óleo diesel adquirido pelas empresas que operam na região metropolitana e um desconto de 80% sobre o mesmo imposto no caso do transporte intermunicipal. Essas vantagens, no entanto, estão diretamente vinculadas a contrapartidas por parte do empresariado, sendo a principal o não reajuste de tarifas".

A equipe econômica disse que vai analisar analisar os pleitos tão logo sejam recebidos. "É importante ressaltar que os benefícios já concedidos representam uma renúncia fiscal, por parte do estado, que ultrapassa R$ 5,5 milhões por ano".

Já a STTU disse que, quanto ao aumento da tarifa, "descartou tal possibilidade quando fez acordo com o Governo do Estado para isenção do ICMS. No tocante à isenção de ISS, a matéria está sendo discutida com a Secretaria de Tributação".

A pasta ainda disse que em relação à devolução de linhas, a STTU não se coaduna com nenhuma devolução. "A STTU está debruçada através de sua equipe técnica para fazer a licitação do transporte público, finalizando o edital ainda este mês".

Passageiros sofrem

Os passageiros que precisam utilizar o transporte público de Natal e da Região Metropolitana reclamam do possível aumento do preço da passagem, principalmente se considerada a qualidade do serviço oferecido pelas empresas atualmente.

Quando viu o aumento do preço do diesel anunciado pela Petrobras, o ambulante João Rodrigues da Silva já suspeitou que isso afetaria o transporte público de alguma maneira.

"Até sem aumentar [o diesel] eles já estavam questionando isso [aumentar a passagem]. O diesel subiu, aí só sobra pro usuário, o mais humilde. Se aumentar, piora mais pra população mais humilde. Os gestores, o prefeito deixam os empresários mandarem", reclama.

O ambulante diz que tem sofrido com a redução da frota nos últimos anos para poder se locomover.

"Eu digo porque sofro todo dia pra pegar o ônibus, na Zona Norte, no Parque das Dunas. Eles diminuíram a frota, tiraram até do domingo o 75 que vai pra Praia do Meio, só tem o 79 - e de hora em hora. A gente paga muito caro nisso, a gente que sofre com isso".
Ambulante João Rodrigues da Silva reclama do possível aumento e também da falta de ônibus — Foto: Julianne Barreto/Inter TV Cabugi

A estudante Rafaela Gomes também diz que antes do início da pandemia esperava no máximo 10 minutos por dia para pegar ônibus da linha B e P, que ligam Parnamirim a Natal. Recentemente ela já chegou a esperar por 1h20.

"A frota completa acho que não voltou, pelo costume que eu tenho de pegar. Porque está demorando muito a passar e também o número de pessoas dentro dos ônibus, sempre estão lotados. E sempre tem gente na parada reclamando que não estão vindo, que estão demorando, que não estão passando", relatou.
Estudante Rafaela Gomes depende diariamente de ônibus na Grande Natal — Foto: Julianne Barreto/Inter TV Cabugi

Ela conta que recentemente recebeu até "dicas" de um funcionário.

"O motorista disse pra eu rezar dois pai-nosso e uma ave-maria pra ver se passava no dia de domingo. A gente está na mão deles [empresários]. Vir de carro está inviável e de ônibus está desse jeito. A gente acaba pagando pra ser humilhado", lamentou.

Fonte: G1 RN

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