domingo, 1 de dezembro de 2013

Tratando o ronco no dentista


01 de Dezembro de 2013 

Isaac Ribeiro
Repórter

Quando se fala em tratamento do ronco e da apneia, quase sempre pensa-se logo em neurologistas e especialistas nos distúrbios do sono. Poucos suspeitam que o problema pode ser resolvido na cadeira do dentista. Isso mesmo! Entre as especialidades envolvidas nessa terapêutica, o cirurgião dentista tem importante papel. Um dos recursos odontológicos mais recorrentes para esse fim, está a placa intra-oral, espécie de dentadura removível capaz de regular a posição da mandíbula, afim de facilitar a passagem do ar durante o sono.

A cirurgiã dentista Ana Pereira diz receber muitos pacientes em seu consultório em busca da placa intra-oral, na esperança de por um fim aos tormentos noturnos. Além de tratar o problema, ela própria é usuária do dispositivo.

“A placa tem uma coisa muito boa: ela não é invasiva em em nada. Você põe, ela funciona; você tira, ela para de funcionar. Você não fez uma cirurgia no seu paciente, você não comprometeu ele em nada”, comenta a dentista.
Alex RegisTerapêutica dos distúrbios do sono envolve equipe multidisciplinarTerapêutica dos distúrbios do sono envolve equipe multidisciplinar

Ela compara a placa com outros procedimentos invasivos, que podem, inclusive, comprometer o paciente caso não funcionem. Ana Pereira cita como exemplo os portadores de micrognatia — queixo recuado, tipo Noel Rosa. A solução seria uma cirurgia ortognática para reposicionar a mandíbula à frente, afim de abrir espaço na orofaringe, facilitando a passagem de ar.

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A diferença é que a paca é um tratamento puramente mecânico, removível após o uso noturno. “Isso é muito personalizado, é moldado, é medido tudo na boca, e você tem a chance de, gradativamente, aumentar esse espaço, pois tem como fazer essa regulagem. O resultado dos pacientes, 100% é um índice muito ousado, mas eu digo que 95% dos pacientes ficam muito satisfeitos”, diz Ana Pereira.

Conforto na placa

Ao passar a noite roncando e tendo os despertares constantes da apneia, o organismo não para de trabalhar. Agora imagine isso após um dia estressante de trabalho... A pessoa acorda cansado, irritado, com dor de cabeça. Sem contar com o risco do aparecimento de doenças e prejuízos cognitivos provenientes desse ritmo constante de funcionamento.

Ao colocar a placa, o roncador finalmente consegue relaxar e dormir a noite inteira. “A diferença no tratamento é uma coisa muito significante, em termo de conforto. Eu sou usuária da placa do ronco: você amanhece outra pessoa”, relata a dentista.

Ela, porém, faz questão de ressaltar o caráter multidisciplinar do tratamento. O primeiro passo é ir a um especialista do sono, que deve indicar uma polissonografia, exame que detecta o problema. “Você pode ter a apneia obstrutiva ou central. Se você tem a central, você tem um comprometimento neurológico. Você pode ter um tumor numa área que está comprometendo. Não é uma coisa tão simples, tipo “o paciente está com ronco e vamos fazer a placa”. Se você vai cuidar desse paciente com seriedade.”, diz Ana Pereira.

Convivendo com o ronco

Este mês de dezembro, a professora aposenta Sílvia Helena Rabello, 61 anos, iniciará seu tratamento contra o ronco e a apneia, que lhe atormentam há uns três anos. Depois de relutar um pouco, ela resolveu procurar um especialista em distúrbios do sono, que, de pronto, marcou um exame de polissonografia.

Ela conta sentir sensações ruins durante a noite, principalmente falta de ar. “Às vezes acontece. Se estiver muito cansada, isso se repete algumas vezes. Por exemplo, no dia em que trabalho muito”, relata Sílvia, atribuindo o problema também ao sobrepeso.

A professora diz acordar cansada e um pouco irritada, mas está usando um travesseiro especial para amenizar o problema. Ela reconhece, porém, que são seus familiares, marido e filhos, que mais se incomodam e reclamam de seu ronco.

bate-papo Marcos Lima

— Acredita que as pessoas dão a devida importância ao ronco e suas consequências?
Nós interpretamos o ronco como uma coisa muito mais cômica do que realmente a importância que ele tem. Hoje já é conhecido que a apneia obstrutiva do sono é um fator de risco isolado para doenças cerebrovasculares, para problemas coronários. E já se sabe não só que isso pode acontecer, ms os mecanismos de como isso vem ocorrer. Geralmente, o ronco é um dos sinais da apneia do sono. O roncador pode ser portador de apneia; geralmente quem ronca não tem apneia — porque o ronco é uma alteração que ocorre por um momento, na resistência da passagem do ar. Então, se ocorre  um aumento na resistência na passagem do ar, aquele indivíduo pode aumentar isso e chegar a ter apneia do sono, que são pausar respiratórias durante o sono.

— Então, quem ronca necessariamente tem apneia ou não? Qual a relação entre os dois?
Existe o ronco isolado e existe o ronco como sintoma da apneia do sono. Só pela história clínica, às vezes, nós não conseguimos definir. O que determina se a pessoa é ou não roncadora, isolada ou com apneia, é a polissonografia, que fazemos para identificar se, além do ronco, faz pausas respiratórias. Lógico que antes da apneia tem a história clínica. Tem pacientes que têm um quadro típico de apneia do sono, cujos principais sintomas são o sono não reparador; porque a apneia interfere na qualidade do sono; ela fragmenta o sono em diferentes graus e dependendo do grau você tem mais ou menos sintomas; então, causa a privação crônica do sono de qualidade. Muitas vezes, o indivíduo que tem apneia do sono muitas vezes não se queixa de insônia, ele dorme, às vezes dorme muito; porque ele está sempre privado de qualidade. O indivíduo diz: “Não, eu não tenho dificuldade para dormir. Onde eu estiver eu durmo. Duro até em pé!” Isso é uma anormalidade. Não é para ter sonolência excessiva. Mas o que ocorre é que ele perde em qualidade.


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