Estudo é o primeiro a comprovar o efeito positivo do exercício leve na produção intelectual
Sem preguiça. Pesquisadora descobriu que fazer caminhada de oito minutos antes de atividade intelectual aumenta a criatividade
GRETCHEN REYNOLDS
THE NEW TORK TIMES
Nova York, EUA. Se você não consegue pensar em uma forma legal e criativa de apresentar os dados comerciais, ou de iniciar uma coluna para o jornal, saia para dar uma volta. Uma caminhadinha, mesmo que seja dentro do escritório, pode aumentar significativamente sua criatividade, de acordo com uma nova pesquisa.
A maioria de nós já ouviu falar que exercícios, incluindo caminhadas, geralmente ajudam a aumentar a concentração tanto imediatamente como em longo prazo. Diversos estudos mostram que animais e humanos geralmente têm desempenhos melhores em testes de memória e da função executiva – capacidade de tomar decisões e organizar o pensamento – depois de se exercitarem (embora exercícios intensos prolongados possam causar fadiga mental temporária – o que significa que não vale a pena fazer uma prova de matemática depois de uma maratona).
Da mesma maneira, relata-se há muito tempo uma conexão entre a prática de exercícios e a criatividade. Durante milênios, escritores e artistas afirmam que suas melhores ideias surgem durante uma caminhada, embora alguns façam o mesmo enquanto enrolam para não andar.
Entretanto, poucos indícios científicos davam suporte à ideia de que os exercícios físicos ajudam a criatividade. Por isso, pesquisadores da Universidade de Stanford decidiram testar essa possibilidade recentemente, inspirados, em parte, por suas próprias caminhadas.
“Meu orientador e eu costumávamos caminhar juntos para discutir os temas da minha tese”, afirmou Marily Oppezzo, na época, aluna de pós-graduação em Stanford. “E um dia pensei: ‘Bom, e que tal isso? Que tal falar sobre as caminhadas, e se elas realmente têm um efeito sobre a criatividade?’”. Com o apoio entusiasmado do orientador, Daniel Schwartz, professor da Faculdade de Educação de Stanford, Oppezzo recrutou um grupo de alunos de graduação para ver se conseguiria aumentar sua criatividade.
Teste de criatividade. Reunindo os voluntários em uma sala deliberadamente monótona e sem graça, equipada apenas com uma mesa e (estranhamente) com uma esteira, Oppezzo pediu para que os estudantes se sentassem e fizessem testes de criatividade, que, segundo a prática psicológica, podem envolver tarefas como a criação rápida de usos alternativos para um botão de roupa, por exemplo.
Em seguida, os participantes caminhavam na esteira, a uma velocidade tranquila, observando uma parede vazia. Para quase todos os estudantes, a criatividade aumentou substancialmente ao longo da caminhada. A maioria deles foi capaz de pensar em cerca de 60% mais usos alternativos “novos e apropriados” para um objeto, afirmou Oppezzo em seu estudo, publicado neste mês pela revista científica “The Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition”.
Oppezzo testou em seguida se os efeitos continuavam após a caminhada. Ela fez outro grupo de alunos passar por duas sessões de testes consecutivas, caminhando em seguida durante oito minutos, enquanto davam ideias sobre o uso alternativo de outros objetos. A seguir, os participantes se sentaram e foram novamente submetidos ao teste.
Novamente, a caminhada aumentou consideravelmente a habilidade dos participantes de gerar ideias criativas, mesmo quando eles se sentavam depois da caminhada. Ainda não se sabe ao certo como caminhadas curtas e casuais são capazes de alterar os diversos processos mentais relacionados à criatividade, acrescentou Oppezzo. “Esse é um efeito considerável”, afirmou, que o distingue dos efeitos psicológicos de longa duração que os exercícios físicos podem gerar no cérebro humano. “Pode ser que elas melhorem o humor” como seu efeito primário, e que a criatividade surja com mais facilidade em uma mente tranquila.
Ou então, caminhar pode desviar a energia que seria dedicada, intencionalmente ou não, para limitar o pensamento criativo, afirmou. “Acredito que seja possível que as caminhadas permitam que o cérebro ganhe força”, afirmou.
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