segunda-feira, 28 de julho de 2014

Copa na Rússia em 2018 deverá custar o triplo do torneio no Brasil

Enquanto a do Brasil custou R$ 26 bilhões, na Rússia, a previsão atual é de quase R$ 90 bilhões
Estádio de Saransk. Foto: Divulgação
Estádio de Saransk. Foto: Divulgação
A Copa do Mundo de 2018, na Rússia, deve custar mais de três vezes a do Brasil e ser a Copa mais cara da história.
No Brasil, o orçamento da Copa ficou em cerca de R$ 26 bilhões. Na Rússia, a previsão atual é de quase R$ 90 bilhões (US$ 40 bilhões), segundo o ministro russo dos Esportes, Vitaly Mutko.
Além dos altos custos, a Rússia enfrenta tensões com outros países e pode sofrer com estádios sem público, racismo e violência no futebol.
Ainda não é possível dizer se as questões políticas – problemas na fronteira com a Ucrânia e a relação de Putin com o Ocidente, que se deteriorou ainda mais após a queda do voo MH17 – terão impacto sobre a realização do torneio.
Mas as insatisfações internas crescem à medida em que os custos aumentam. A previsão de gastos para as 11 cidades-sede já dobrou: antes, era de US$ 19 bilhões (cerca de R$ 42 bilhões).
Críticos também destacam que a capacidade mínima para estádios de Copa do Mundo é de 45 mil lugares, enquanto a média de público do campeonato russo é de 11,5 mil.
“Estádios têm uma função, mas eles não devem ficar vazios”, disse Nikolay Levshits, ativista em Moscou.
“Os custos de construção podem ser reduzidos com investimento privado e patrocinadores. Eu apoio a Copa do Mundo na Rússia, mas não às custas de retirar dinheiro de escolas, hospitais ou do bolso dos aposentados.”
Exemplo do Brasil
O jornalista russo Igor Rabiner diz que os organizadores russos precisam aprender com o exemplo do Brasil. “Quanto mais confortável é o estádio, mais as pessoas vão aos jogos”, diz.
“Mas uma cidade como Saransk (uma das cidades-sede da Copa de 2018, com uma população de 300 mil habitantes) realmente não precisa de uma arena de 40 mil assentos.”
“Por isso, precisamos seguir o exemplo de Arena Corinthians em São Paulo, onde algumas arquibancadas serão parcialmente desmontadas após a Copa.”
A Copa do Mundo será o segundo grande evento esportivo que Rússia sediará em quatro anos, após os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi neste ano.
Os custos das Olimpíadas de Inverno, sozinhos, superaram os gastos previstos da Copa e das Olimpíadas de 2016 no Brasil. A tocha olímpica chegou a ser enviada ao Pólo Norte e ao espaço.
Apesar dos enormes custos envolvidos, Levshits, um participante ativo em manifestações da oposição, diz que não espera ver protestos como os que ocorreram no Brasil antes do Mundial e, em menor escala, também durante.
“Esse tipo de protesto, aqui, prejudicaria aqueles que participam, pois a TV estatal tentaria retratar os manifestantes como pessoas que tentar estragar uma festa do esporte”, diz ele.
“Só podemos expressar nossas preocupações ou oposição por meio de um esforço de compartilhamento de informações calmo e razoável.”
Racismo
Na final da Copa no Maracanã, no dia 13, o presidente russo, Vladimir Putin, disse esperar que a Copa ajude a Rússia a combater o racismo, um dos maiores problemas enfrentados pelo país nos preparativos para o Mundial.
“O presidente (da Fifa, Joseph) Blatter faz um esforço pessoal para lidar com as questões sociais e esperamos que os preparativos para a Copa do Mundo na Rússia também contribuam para causas como a luta contra as drogas, racismo e outros desafios que enfrentamos hoje “, disse Putin.
O ex-lateral brasileiro Roberto Carlos e seu ex-colega no clube russo Anzhi Makhachkala, o congolês Christopher Samba, assim como o meia marfinense do Manchester City Yaya Touré estão entre os que sofreram ataques racistas na Rússia nos últimos anos.
Vandalismo e violência nos estádios também são grandes problemas do país, com torcedores que entram em conflito com a polícia e atrapalham os jogos.
O Zenit – um dos maiores da liga russa – foi punido em maio depois que seus fãs invadiram o campo durante um jogo em São Petersburgo contra o Dynamo de Moscou. O capitão do Dynamo, Vladimir Granat, levou um soco na cabeça de um torcedor do Zenit.
O clube foi obrigado a jogar seus próximos dois jogos em casa a portas fechadas e multado em US$ 28 mil.
O jornalista Igor Rabiner, do site de futebol russo Championat, diz que as autoridades precisam lançar uma campanha contra o racismo e o vandalismo ao longo dos próximos quatro anos para evitar que essas cenas se repitam na Copa.
“Hooligans na Rússia sempre ficam impunes”, diz ele. “Eu não entendo como alguém não é processado por bater em um jogador em campo.”
“Mais importante, isso incentiva outros a repetir esse tipo de comportamento.”
Desde que a Rússia foi escolhida para sediar a Copa, em dezembro de 2010, nenhuma das 12 arenas teve futebol de grande importância no cenário mundial. Os estádios em Kazan, Sochi e Moscou devem ser inaugurados em breve. Um dos dois estádios da capital – a nova casa do Spartak Moscou – deve ser aberto no dia 5 de setembro.
O segundo estádio da capital, o Luzhniki – que vai sediar a final – está passando por uma enorme reforma e foi fechado após sediar o Campeonato Mundial de Atletismo de 2013.
Também foram prometidas melhorias em aeroportos, estações de trem e novos hotéis nas 11 cidades-sede. Espera-se que, como aconteceu com os Jogos Olímpicos de Inverno, os custos sejam pagos por fundos estatais e investidores privados.
Menos sedes
Moscou, São Petersburgo, Sochi e Kazan também irão sediar a Copa das Confederações em 2017, e a infraestrutura nessas cidades já é melhor do que nas outras sete.
O governo russo só escolheu em março deste ano as empreiteiras para a construção de estádios em outros sete locais: Nizhny Novgorod, Volgogrado, Samara, Yekaterinburg, Kaliningrado, Saransk e Rostov.
Joseph Blatter disse na semana passada, no Brasil, que a Fifa ainda pode decidir reduzir o número de estádios na Rússia de 12 para 10. Isso pode acontecer, principalmente, devido a preocupações sobre os prazos de construção e a futura utilização dos estádios.
Os comentários vêm causando confusão na Rússia: o governo russo disse logo em seguida que era muito cedo para falar sobre alterações nas cidades-sede. Uma delegação da Fifa vai visitar a Rússia em setembro para discutir os planos com os organizadores locais.
Quanto à segurança, Rabiner diz que o Brasil mostrou que é possível organizar um torneio seguro mesmo em um país com uma elevada taxa de criminalidade. O desafio, segundo ele, é a mudança de atitude.
“A Rússia é um país bastante fechado e não muito multicultural, por isso precisamos aprender muito. Os russos deve ser amigáveis e hospitaleiros com pessoas de todas as raças e etnias.”
Fonte: JH/Terra

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