Setecentos policiais militares estão afastados de suas atividades devido a problemas de saúde. O montante corresponde a quase 8% do efetivo total. Parte dos PMs foi remanejado para serviços burocráticos ou administrativos da corporação. A maioria, no entanto, está desocupada. Entre as enfermidades responsáveis pela retirada dos policiais das ruas, destacam-se as doenças psiquiátricas que são as causas de 45% das licenças médicas.
Magnus Nascimento
Por mês, 10 PMs saem das ruas por problemas psiquiátricos
Há duas formas para o policial deixar suas funções ordinárias. Dependendo do diagnóstico médico, o PM é afastado completamente do trabalho ou assume outra função dentro do Comando. Atualmente, existem 399 policiais na primeira condição e mais 301 homens na segunda. Os dados foram revelados pelo Centro de Atenção Básica à Saúde da Polícia Militar do Rio Grande do Norte (PM-RN) e foram atualizados ontem, dia 28, um dia após um soldado atear fogo em três motocicletas, atentar contra a própria vida e ser internado em um hospital psiquiátrico de Natal.
Os números revelam ainda que as doenças psiquiátricas respondem pela maior demanda no setor. São 318 policiais que, hoje, enfrentam algum transtorno psíquico e, por isso, deixaram as ruas. Há outro dado preocupante nas estatísticas da PM-RN. Nos últimos sete meses, foram diagnósticos 73 novos casos de doenças psiquiátricas na corporação. Em dezembro de 2013, eram 245 policiais doentes. A evolução resulta em uma média de 10 novos casos por mês.
De acordo com o diretor de Saúde da PM-RN, médico e coronel Silvério Monte, há três fatores que explicam a evolução do quadro: policiais com histórico de doenças antes de ingressar na corporação, a própria natureza da atividade policial e a falta de efetivo que possibilitaria um rodízio entre os praças. “Temos policiais que são inaptos para a atividade e estão em atividade. É um risco”, alertou.
O coronel explicou que alguns policiais, no ato de ingresso na corporação, são reprovados nos exames médicos. “A maior parte é reprovada nos testes psicológicos e psiquiátricos”, disse. Mesmo com a reprovação, os então candidatos conseguiram decisões judiciais que obrigam o Comando da Polícia a efetivá-los. “Ou seja, o policial já ingressa com problemas que podem vir à tona a qualquer momento”, completou. O coronel não soube mensurar quantos policiais que apresentaram restrições durante os testes de ingresso estão na ativa.
A atividade policial é estressante por natureza. Combater o crime, andar armado, sofrer pressão da sociedade e enfrentar problemas estruturais resultam em problemas emocionais. “É o mesmo que estar em uma guerra todos os dias. O risco é muito alto e é preciso um equilíbrio entre mente e corpo”, ponderou coronel Monte.
Para encontrar esse “equilíbrio”, a ajuda do profissional médico é indispensável. Psicólogos e psiquiatras podem ajudar. No entanto, a PM-RN conta apenas com um psicólogo e um psiquiatra. Este, aliás, está afastado do serviço por problemas de saúde. Há 13 anos não há concurso para recomposição do quadro da equipe de saúde da Polícia Militar.
O ideal, segundo o coronel, seria que a PM-RN contasse com pelo menos 3 psiquiatras e 15 psicólogos. A falta de efetivo atrapalha e inviabiliza uma solução para o terceiro fator apontado como causa para o afastamento dos policiais do serviço. “Se tivéssemos um efetivo maior, poderíamos fazer um rodízio nas equipes. Dar folgas para os policiais que vivenciaram algum episódio traumático”, explicou Silvério Monte.
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