Cultura voltou com efervescência e apoio da classe artística, mesmo com preços elevados
Conrado Carlos
Editor de Cultura
Quem se desfez de coleções de discos de vinil, em meio ao marketing do CD, nos 90s, deve se arrepender todos os dias. Conheço gente que ‘se livrou’ do volume acumulado em prateleiras por R$1,00 a unidade, durante a suposta falência de uma cultura nascida na primeira metade do século XX. Resultado: o CD durou pouco mais de uma década, ao sucumbir aos downloads. Hoje, os mesmos vinis que valiam duas cocadas e uma mariola, foram alçados ao topo da lista de produtos culturais, com uma crescente tribo que troca informações e conteúdo. Foi para eles que Nelson Marques organizou a 1ª Feira de Vinil de Natal, que acontecerá no próximo sábado (20), no Mercado de Petrópolis. Das 10h às 17h, colecionadores e curiosos terão um grande acervo à disposição, bem como a exposição de vitrolas antigas, livros e revistas musicais.
Da união dos sebos Balalaika, Lisboa, Catalivros e Sunrise, nasceu a Feira. É uma turma que acredita no poder de transformação contido na arte com a fruição dos bens culturais em seu estado original – que envolve fetiche e conhecimento. Assim como cinemas e livrarias viraram meros itens de serviços fornecidos por shopping centers, as lojas de música sumiram do mapa. Em uma época em que a oferta nunca foi tão generosa, pois hoje é possível achar álbuns e filmes do passado com meros dois cliques, a apreciação estética com apuro sofre uma redução preocupante. É nesse alvo que Nelson quer atingir. “É a primeira vez que organizamos uma feira de vinil. Mantivemos contato com colecionadores e observamos que muito jovem vem aqui no Mercado em busca de vinis.
A ideia embrionária serve como ponto de encontro de pessoas que não acham que vinil é entulho, mas, sim, o som real, com todos os ruídos que a música tem”. O CD prometia o som cristalino e a praticidade que todo objeto moderno traz como referência. Bastaram poucos anos para isso ser desfeito e o vinil voltar ao lugar de destaque na prateleira. “Hoje o vinil virou uma mídia nova, com vitrolas modernas, mas com visual antigo. As pessoas viram que a pureza do som está ali. Além de a arte das capas serem um atrativo a mais”, diz Nelson, presidente da Associação dos Permissionários do Mercado de Petrópolis (Asperm) e do Cineclube Natal. Para incrementar a primeira experiência de reunir fãs de vinil, um encontro, chamado “Duo Rock no Batepapo: Beatles e Curiosidades”, trará a descontração em torno da banda que mudou a história.
“É uma conversa informal, não uma palestra, no mezanino do Mercado. Escolhemos os Beatles por eles serem ainda muito procurados”. Nelson acredita que o CD ou o download ficou para a música como a grama sintética está para o futebol – um meio onde a bola/música rola de forma artificial. Ele quer contribuir na formação de novos apreciadores de musica ou na manutenção dos fãs existentes com a troca de discos e informações. “É um trabalho de formiguinha e uma grande incógnita. Não sei se dará certo, mas o que ouço é muita queixa de pessoas sobre o fato de Natal não ter mais lojas que vende música. A loja é ponto de encontro, onde se discute, e até se briga sobre os temas mais queridos”.
Fonte: JH
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