“A pedra no sapato de todo mundo era a matemática e ela era a professora particular dos colegas.” Renato Moraes
Nas curvas projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, Dilma Vana Rousseff viveu os dois momentos mais marcantes de sua história. O ano era 1964 quando a hoje presidente da República, aos 17 anos, ingressou no tradicional Colégio Estadual Governador Milton Campos, conhecido como Estadual Central, em Belo Horizonte. Logo na chegada, ao lado de um grupo de amigas oriundas como ela do Colégio Sion – reservado a mulheres e comandado por freiras no bairro nobre de mesmo nome –, a garota tímida e apaixonada por livros escolheu seu lugar preferido, onde passaria boa parte dos três anos seguintes: uma rampa de quatro metros de altura conhecida entre os alunos como o “espaço da conspiração política”.
Quase 50 anos depois, o hábito de passar por uma rampa histórica, também projetada por Niemeyer, está de novo na vida de Dilma. Agora, porém, no Palácio do Planalto, com a mineira no mais alto posto de comando do país.
Filha de um poeta búlgaro e de uma professora brasileira, a hoje candidata à reeleição na Presidência viveu fases completamente opostas nas duas primeiras décadas de vida em Belo Horizonte. Nos primeiros anos, como aluna de um colégio com ensino rígido e voltado para a formação de mulheres religiosas, ficava constantemente sob a proteção da família. Um de seus primos, o engenheiro Alexandre Misionschnik, 52, conta que Dilma gostava de viajar para Aguaí, cidade do interior de São Paulo. No município vizinho a Campinas, tinha as mais diferentes aventuras. “Inclusive brincar no cemitério”, confidencia o primo. No ano passado, Dilma voltou a Aguaí para o enterro de uma tia. Sua presença fez com que a cidade, de pouco mais de 30 mil habitantes, praticamente parasse. “Nossa tia a ajudou muito quando ela foi presa. Ela é muito grata, mas sua presença causou uma grande confusão”.
O pai de Misionschnik foi outro “anjo da guarda” na vida de Dilma. Foi ele quem a retirou do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na capital, onde aconteciam sessões de tortura no período da ditadura. “Ela (Dilma) ficou dez dias num guarda-móveis para depois fugir para o Rio de Janeiro, quando foi novamente presa. Ela saiu daqui com uma identidade falsa de uma prima nossa”, lembra o engenheiro, que confirma que o ar de “gerentona” e “autoritária” vem desde essa época. “Mas com a família, ela era gozadora e moleca”, diz.
O perfil brincalhão da infância deu lugar à seriedade própria da militância política na juventude, quando entrou no Estadual Central. Se na época em que foi aluna do Colégio Sion os principais assuntos com as amigas eram músicas e as paqueras, com a mudança de escola o interesse passou a ser filosofia e política.
Os amigos contam que, mesmo discreta, Dilma se destacava pela inteligência. Contemporâneo da petista, o autor do livro “Colégio Estadual”, Renato Moraes, lembra que a presidente, já na juventude, exercia papel de liderança. “A pedra no sapato de todo mundo era a matemática, e ela era a professora particular dos colegas”. Os registros do colégio, no entanto, mostram que na última prova da disciplina ela não se saiu bem e perdeu média.
Política. A adesão da presidente ao movimento político se deu logo no primeiro ano de Estadual, ao lado do hoje ambientalista Apolo Heringer. Por serem vizinhos – ela no São Pedro, e ele no Cruzeiro –, o médico a convenceu a organizar a primeira associação de bairro. “A desculpa era melhorar a região, mas foi uma forma de nos organizarmos sem que a ditadura desconfiasse”, conta ele. Dilma atuava sempre nos bastidores e era responsável pela infraestrutura e logística do grupo. Enquanto isso, seguia com o hobby de ler Jorge Amado e estudar a história do Brasil. “Era tão tímida que não falava em público”.
O aumento da repressão fez com que Dilma e Apolo tomassem diferentes caminhos e só voltassem a ter notícias um do outro na prisão, quando foram torturados, e após a liberdade, em 1972.
De lá para cá, a presidente se estabeleceu em Porto Alegre e acabou tendo menos contato com os parentes e amigos mineiros. As notícias, na maior parte das vezes, vinham de longe. “Nós nos encontramos quando ela foi ministra do governo Lula. Quando ela virou presidente, organizou um jantar para a família na véspera da posse. Sabemos que ela é muito ocupada e, por isso, preferimos não incomodar”, finaliza o primo.
Fonte: Jornal O Tempo
Fonte: Jornal O Tempo
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