Durante esse período, haverá shows em Natal, Mossoró, Caicó, Santa Cruz e Currais Novos
Lá pelos idos de 2006, um sujeito cabeludo que faz rock cru e sem moderação cantou que “Farra para tudo é um bom remédio, só um idiota completo morre de tédio, queremos todo dia tudo isso que a vida tem de bom”. Era Jimmy London, líder da banda carioca Matanza, com sua faixa Clube dos Canalhas, do disco A Arte do Insulto – que viria a se transformar em dos trabalhos de maior repercussão na cena roqueira nacional na década passada. Para muita gente, é assim que coisa funciona. Sobretudo na juventude, breve trecho da existência humana em que diversas portas da percepção oferecem maçanetas brilhosas, na espera por mãos que chegam sem avisar. Definir quais serão abertas é que é o grande barato da vida. O que pode ser dolorido ou extremamente prazeroso. Prazer que surgirá em superdosagem em cinco cidades norte-rio-grandenses, a partir de sexta (07), até o próximo dia 23, na 11ª edição do Festival DoSol, evento que trará mais de 100 apresentações para milhares de pessoas, em uma demonstração da importância que a cultura tem no vigor urbano e evolutivo de uma sociedade. Ignorar o fenômeno é uma opção que deveria ser repensada.
O Matanza citado na abertura é uma das atrações da edição 2014, que ainda inclui como destaques, a paulista Céu e a baiana Pitty, em show de encerramento no Teatro Riachuelo na segunda-feira que vem (10), cujos ingressos estão esgotados. O organizador Anderson Foca, ‘militante’ do desenvolvimento artístico e cultural em Natal, torcedor do Remo paraense e multi-instrumentista da Camarones Orquestra Guitarrística (que fará show no sábado, às 20h, no Palco Petrobras, no Armazém Hall), comenta sobre a novidade do show único na principal casa de espetáculos da capital. “Pitty é uma artista bem grande, do rock, uma das maiores do país, e a gente ia ter uma dificuldade técnica muito grande de fazer na Ribeira, com as condições estruturais que temos lá. E aí junto com uma série de coisas, tem o ENEN, que é no mesmo final de semana, e algumas pessoas mais jovens não poderiam assistir. Terminou que achamos uma maneira de fazer em um lugar muito legal, atendendo todas as necessidades técnicas do show e do patrocinador, que é a Ray-Ban [a famosa marca de óculos]“.
Natal recebe o pacote completo, com quatro dias de movimentação em palcos espalhados pela Ribeira (Centro Cultural DoSol, o próprio Armazén Hall e o Galpão 29). “Então o Interior sairá desprestigiado?”, pergunta um sem noção da língua ferina aqui do meu lado. De forma alguma, pois dentro da realidade da cena roqueira dos demais municípios, tem nomes bem interessantes. Mossoró, por exemplo, terá uma chuva de riffs no dia 15, no Clube Carcará, gerada pela fina flor do rock potiguar, com a Camarones, Talma & Gadelha, Moster Coyote, Red Boots, além dos alemães do Samavayo. “A gente não tem critérios artísticos [para escolher uma nova cidade-sede], Na verdade, é ter uma estrutura que possa receber a mostra. Vistamos Currais Novos no meio desse ano agora e achamos um lugar muito legal, um anfiteatro que tem, e um produtor interessado. E, Santa Cruz também, nós já fizemos muitos shows lá. É mais ter um lugar que a gente possa receber com conforto a galera que vai. Nós levamos tudo, As bandas, som, técnicos, tudo com a gente no ônibus e um caminhão de apoio. É tipo uma trupe que chega na cidade. A gente chega de 15h e 18h está tudo montado e começa”, diz Anderson, com visível empolgação na empreitada.
Mas o grande atrativo são as bandas ‘menores’, as desconhecidas, com pouco (ou nenhum) espaço na mídia convencional, ainda que tenham forte apelo junto aos fãs que escavam a internet em busca de novidades. Nas três semanas de Festival DoSol, a música transpõe a divisa estadual e leva a marca do evento potiguar para João Pessoa e Recife, em sideshows (eventos paralelos, como um anexo e aperitivo do principal, em praças ou ambientes fora da agenda) com bandas do lineup oficial. Anderson comemora o fato de poder agregar várias casas (inclusive outras em Natal e Parnamirim) e localidades ao circuito DoSol. O que parece loucura para um produtor iniciante, extrapola a alegria de quem ainda faz integra a organização da Virada Cultural na Ribeira e de uma série de projetos em torno do bairro histórico e da música. “Como a nossa vivência é a musica, diferente de ser um emprego, um trabalho, parece meio bizarro para os outros entenderem, mas fica fácil ter motivação para fazer tudo isso. Por exemplo, esse ano são cem artistas, temos que tratar com umas quatrocentas cabeças, necessidades e ideologias diferentes. Quer dizer, você termina tendo que administrar vários egos. Quando se vive isso, a motivação é automática”.
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