153 cidades estão em calamidade pública; 9 com abastecimento suspenso.
Estado criou Gabinete de Gestão Integrada de Recursos Hídricos.
Em 2013, moradores de Equador, RN, já enfrentavam filas para conseguir água (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Dos 167 municípios do Rio Grande do Norte 153 estão em estado de calamidade pública por causa da seca. Vinte cidades estão passando por rodízio no abastecimento de água e nove estão em colapso - com o abastecimento completamente suspenso por parte da Companhia de Águas Esgotos do Rio Grande do Norte. De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Emparn), o atual período de seca é o pior no RN desde 1911 quando a instituição começou o monitoramento pluviométrico no estado.
“Esse período de seca começou em 2012. De lá pra cá a chuva não foi suficiente para recuperar o nível dos reservatórios”, explicou o meteorologista Gilmar Bistrot. Segundo ele, a média de chuva para o RN é de 700 milímetros por ano. Em 2012, choveu 300 mm – menos de 50% da média. Em 2013, choveu 600 mm. No ano seguinte, 500 mm. Em 2015, choveu em média 400 mm no interior do estado e o período chuvoso já acabou. “Em todos esses anos o índice de chuvas ficou abaixo da média. A consequência maior que se observa é a condição de reserva hídrica que se exauriu rapidamente”, disse Gilmar Bistrot.
Governo instituiu Gabinete de Gestão Integrada de
Recursos Hídricos (Foto: Rayane Mainara)
Na última semana, o governo do estado instituiu um gabinete de gestão integrada de recursos hídricos para garantir a continuidade do abastecimento nas áreas mais afetadas pela estiagem. Na primeira reunião do comitê realizada no dia 18 de junho o secretário estadual de Recursos Hídricos afirmou que a prioridade no momento é garantir o abastecimento humano. “Infelizmente alguns sistemas de irrigação já foram restritos só para a noite, mas é porque nesse momento nossa prioridade é o consumo humano".
O nível dos reservatórios do estado é preocupante. A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório do estado, tem capacidade para 2,4 bilhões de metros cúbicos e está com apenas 681 mil metros cúbicos de água, o que representa 28,38% da capacidade total. Uma resolução da conjunta da Agência Nacional de Águas (ANA) com o Instituto de Gestão de Águas do RN (Igarn) fixou a data de 1º de julho para que seja suspenso o uso da água da bacia Piranhas-Açu para fins de irrigação. A resolução foi publicada na última sexta-feira (19) no Diário Oficial da União e tem como objetivo garantir o abastecimento humano e a preservação dos mananciais.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN, José Álvares Vieira, a situação é “desesperadora”. “Nós saímos do patamar de preocupação e entramos no patamar do desespero. É muito fácil dar uma canetada proibindo a retirada de água para irrigação, mas ninguém se preocupa com a situação do produtor. Claro que soluções para a garantia de água são importantes, mas também é preciso salvar os produtores rurais”, disse.
Segundo ele, os prejuízos causados pela seca são incalculáveis. “Não dá pra mensurar com exatidão o verdadeiro prejuízo porque o prejuízo é permanente. Mas nesses três anos de seca nós já tivemos perda de 90% na produção do mel e da castanha, perda de 50% na produção de carne e leite, a fruticultura irrigada teve perda de 10% da produção, e essas perdas estão aumentando”, disse.
Agricultor lamenta perda de produção com a seca
(Foto: Anderson Barbosa/G1)
Colapso
O G1 fez séries de matérias sobre a seca no estado em 2013 e 2014. A cidade de Carnaúba dos Dantas já estava em colapso no ano de 2013. Faltava água para as necessidades mais básicas como tomar um banho. À época, a produtora de vendas Robéria Danielle Dantas, de 27 anos, contou que já não sabia mais como era um banho de chuveiro. "Não sei mais o que é tomar um banho decente. Há dois anos, só tomo banho de cuia", disse.
A situação continua a mesma na cidade.Carnaúba dos Dantas é uma das nove cidades que estão em colapso, ou seja, com o abastecimento de água por parte da Caern completamente paralisado. Nestes casos, de acordo com a Caern, a prefeitura de cada cidade assume o abastecimento da população, normalmente, por meio de carros-pipa. Ao todo, nove cidades estão nesta situação. No Alto Oeste, o colapso atinge Antônio Martins,João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões,Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias.
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