(Marciano Medeiros)
Eu me encontrava na Feira de Cordel Leandro Gomes de Barros, ocorrida em Pombal na Paraíba, quando recebi um telefonema de meu irmão caçula, o Marqueu, me informando de que nossa irmã Jaise, tinha sido diagnosticada com um tumor no cerebelo. Esta notícia caíra como uma bomba no seio de nossa família. Alguns minutos depois liguei para nossa mãe e fiquei comovido, pois a mesma se desfazia em lágrimas, vertendo pranto convulsivo. Procurei manter o controle e preparei o coração para retornar, ao meu querido Rio Grande do Norte.
A viagem de volta foi emocionante, com dois cordelistas do Seridó e o café da manhã foi servido em poesia, quando ouvimos o poeta Antonio Francisco, declamando seus versos melódicos, no banco da frente do carro, que deslizava velozmente na estrada do sertão. Enxerguei naquilo um sinal divino, senti relativa tranquilidade em minha alma.
Aos poucos fui me informando de que minha mãe, Francisca Salustino e Marcone Medeiros, nosso irmão, tinham saído de Serra de São Bento num automóvel, indo a Parnamirim, onde encontraram Jaise quase morta na casa onde residia. As mãos e os pés estavam gelados e desta forma ela houvera sido conduzida ao Hospital Deoclécio Marques de Lucena. Chegou no dia seguinte a uma clínica, recebendo após uma nova tomografia, o diagnostico preciso, um tumor estava retirando seus movimentos e fazendo-a ter sucessivos desmaios.
Marcone, Marconise e nossa mãe, foram imediatamente ao Hospital Walfredo Gurgel. Jaise ficou internada e já num primeiro momento foi submetida a uma cirurgia para implantação de um dreno, que ajudaria na sua recuperação, interligando a cabeça com a bexiga, para expelir a água acumulada no crânio, pela ação nefasta do tumor. A partir dali o internamento prosseguiu por mais de sete dias e nossas duas irmãs puderam viver as maiores lições de amor e doação desinteressada, que alguém pode passar. Jaise a paciente e Marconise, ficaram numa enfermaria repleta de pessoas também carentes. Marconise conquistou novas amizades e ganhou o apelido carinhoso de super-acompanhante.
Marcone voltou a Serra de São Bento para cumprir suas atividades em duas escolas que trabalha, através de concurso, e chegou a minha vez de contribuir de alguma forma, articulando outras coisas juntamente com nosso irmão mais jovem, Marqueu. Agradecemos demais todo o apoio dado pela namorada de Marcone, Gizelda, possibilitando o aceleramento de um exame de alta precisão, uma ressonância magnética, impulsionando o processo cirúrgico que ocorreria em breve, emprestando recursos para este objetivo. Tivemos ainda apoio de Graça e Emanuel, o que também agradecemos publicamente. A prima Cimar Crisanto, também me deu uma carona providencial, de Serra de São Bento a Parnamirim. O companheiro de Jaise, Leonardo, a visitou diversas vezes durante o internamento.
No Walfredo Gurgel, esta irmã recebeu alta e veio para a casa de Marconise. Foi quando pessoas amigas, Isa, Nalva, Marusa, familiares e igrejas inteiras, começaram a fazer verdadeiras campanhas de oração, para que Jaise conseguisse superar, o começo deste tratamento extremamente delicado. Fomos orientados pelo neurocirurgião, doutor Guilherme Lima, para procurarmos a Secretária de Saúde de Parnamirim e Geisa Alves, a secretária do doutor, que trabalha no Hospital do coração, em Natal. Na auditória da Secretaria de Saúde encontrei pessoas maravilhosas e em menos de cinco minutos, a autorização extava carimbada. No Hospital do Coração o tempo gasto ainda foi menor, finalmente a cirurgia estava marcada para dia 27 de outubro de 2015. Geisa Alves agendou e me entregou um pequeno cartão com contatos telefônicos e um whatsapp.
Numa manhã de sol de segunda-feira, Jaise e Marconise foram no automóvel da vizinha e amiga Isa, fazer o restante dos exames. Porém de madrugada Jaise passou mal e acordou nossa mãe dizendo que não iria aguentar esperar até o dia 27. Eu tinha vindo para Serra de São Bento, na segunda de manhã. Fiquei o resto da tarde sem ter notícias das novidades.
Terça-feira por volta de nove horas, meu telefone toca, era Marconise me pedindo para entrar em contato com o médico, foi quando um novo milagre aconteceu. Eu já tinha ligado antes para o whatsapp da Geisa e ela não tinha atendido. Procurei o cartãozinho salvador e desesperado, liguei outra vez, agora ela atendeu e me passou o telefone do doutor Guilherme Lima. O médico foi muito solícito e mandou que Jaise e Marconise fossem ao Walfredo Gurgel a tarde, onde ele ordenaria novo internamento. E assim aconteceu.
Na quarta-feira fui a Natal e vi estas duas irmãs, lutando heroicamente, contra um verdadeiro “mar vermelho” de dificuldades gravíssimas. No horário de visitas a tarde as encontrei num novo setor do hospital, chamado de Polinho. Ainda naquela tarde fizeram uma tomografia e vi uma médica iniciante, designada para fazer exame nos movimentos físicos de Jaise. Voltei para a casa de Marconise em Parnamirim, esperando ansiosamente, pois o médico resolveu antecipar a cirurgia para quinta-feira, no dia 22 de outubro.
Jaise nessa quarta, guardadas as devidas proporções, viveu seu momento de angústia, comparado ao que Jesus passou no Horto das Oliveiras. Não pensem que estou blasfemando, pois de madrugada ela enviou mensagens de celular para todos nós, os seus irmãos, e a nossa mãe comoveu-se profundamente, quando ela disse que estava de nariz entupido de tanto chorar. Mamãe acordou, eu falei por alto sobre a mensagem, foi quando dona Francisca suspirou entre lágrimas, dizendo: “oh! Meu bom Deus ajude a essa criatura!”
Quinta-feira, 22 de outubro, cinco dias antes da outra data marcada, Jaise saiu do Walfredo e aproximadamente às 14 horas entrou na sala de cirurgia. Nós ficamos sem saber, se ainda ouviríamos o seu sorriso outra vez. O tempo foi passando, seis, sete, oito, nove e finalmente após dez horas de cirurgia, tudo estava concluído. Nossa irmã foi saber de notícias, porém voltou um pouco desanimada, só melhorando quando fomos informados, de que a paciente tinha acordado.
Ficamos num corredor do segundo andar, espreitando numa das portas, que adentra no rumo da UTI. Sabíamos que Jaise passaria por ali e montamos vigilância cerrada. Distraímo-nos por cinco minutos, em seguida apareceu um homem com mais de trinta anos, tendo semblante de vinte e cinco, extremamente afável e discreto. O som de sua voz ficou gravado em minha mente para sempre, quando perguntou: “e então, não viram a paciente?” Era o doutor Guilherme Lima. Depois soube que Marconise o agradeceu; e ele falou na equipe médica e na proteção de Deus, para aquele sucesso todo na intervenção cirúrgica.
Jaise Batista de Medeiros ficou primeiro na UTI, depois passou para uma enfermaria, sempre tendo a presença da super-acompanhante, Marconise. Recebeu alta e voltou para casa, onde as visitas se espantaram pela sua capacidade de recuperação. Estamos aguardando o resultado da biopsia e maligno ou benigno, o tumor foi retirado totalmente. Foi este o milagre que testemunhei, onde num espaço de tempo muito curto, esta moça adentrou num Hospital tão moderno e recebeu todo apoio possível, para derrotar esta grave doença. Milagre como uma sucessão de eventos inabituais, sem a revogação das leis naturais. Certamente nosso Deus Eterno, através da tão avançada medicina, concedeu esta nova chance, para que ela cresça mais, como pessoa e realize muitos dos sonhos que ainda tem. Nossas lágrimas foram substituídas por sorrisos e no dia nove de novembro comemoramos de forma simples e com muita alegria, os trinta e cindo anos de nossa querida irmã, que ainda tem muitas experiências para viver.
Fonte: Portal O Click da Notícia
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