quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Febre amarela faz um óbito em Natal

Uma mulher de meia idade morreu depois de contrair o vírus da febre amarela em agosto deste ano. A doença é considerada erradicada nas cidades brasileiras desde 1942. No entanto, um exame laboratorial chegou ontem à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e confirma a doença. O transmissor do vírus da febre é o mesmo que já se notabilizou por transmitir dengue, febre chikungunya e zika vírus: o Aedes aegypti. 


Júnior SantosJuliana Araújo: SMS fará investigação para caracterizar infecção

Com o resultado do positivo do exame, o Departamento de Vigilância em Saúde municipal deve iniciar uma investigação para saber como a mulher contraiu a febre amarela. Sempre que há registro de uma doença incomum em determinada região, as autoridades de saúde costumam a distinguir os casos importados (quando o paciente é infectado numa área de risco e se desloca para a cidade onde a doença é notificada) dos autóctones (aqueles em que o paciente contrai a doença na localidade onde mora). Essa deve ser uma das respostas dessa investigação epidemiológica. Isso é fundamental para formular ou reforçar estratégias de combate à doença.

Os técnicos da Secretaria de Saúde deverão descobrir se a vítima viajou para áreas de risco sem tomar a vacina, ou terão que encontrar pistas de alguém dessas áreas que tenha circulado próximo da residência ou local de trabalho dela. Embora não exista contágio direto entre pessoas – assim como as outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti -, o mosquito só passa a transmitir a doença a partir do momento que pica um ser humano já infectado. 

Esse ciclo vale apenas para os casos de febre amarela urbana. Na febre amarela silvestre, as formas de contaminação variam. Os mosquitos responsáveis pela transmissão nas áreas de mata são o Haemagogus e Sabethes. Eles tanto podem ser infectados por uma pessoa com o vírus quanto por macacos. Nas áreas de risco (eminentemente silvestres), a vacina é recomendada para trabalhadores rurais, moradores e turistas. Convém ressaltar que o Rio Grande não é área de risco para febre amarela.

A investigação do caso de morte em Natal deve durar, pelo menos, uma semana segundo a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da SMS, Juliana Araújo. “A gente não encontra nexo epidemiológico. Não encontra vínculo, uma viagem para uma área de risco. Além disso, nenhum dos vetores (mosquitos) capturados aqui está infectado com febre amarela. Então, essa investigação deve ser bem minuciosa”, afirmou Juliana Araújo. 

Sem revelar para qual unidade de saúde a paciente se dirigiu, a Araújo informou que a evolução da doença foi rápida. “Ela não tinha sintomatologia. Quando sentiu os primeiros sintomas, procurou atendimento, passou dois dias internada na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e logo depois foi a óbito”, contou. Juliana informou também que a Secretaria Municipal só foi notificada do caso em outubro. Daí, deu-se encaminhamento ao exame comprobatório da febre amarela que, segundo a diretora, é demorado. A coordenadora de Promoção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Cláudia Frederico, disse que ainda não tinha informações sobre o caso. 

Os mais recentes pacientes de febre amarela no Brasil são de Goiás no município de Alto Paraíso na Chapada dos Veadeiros. Em fevereiro deste ano, um jovem de 22 anos não resistiu à doença. O outro, turista da Bélgica, conseguiu se recuperar. A estatística mais atualizada a que tivemos acesso dá conta de 662 casos de febre amarela silvestre de 1980 a 2004, tendo uma taxa de mortalidade de 51% do total. 

História da febre
Natal já registrou epidemias de febre amarela desde o século 19 como informa o livro “Uma Cidade Sã e Bela, a trajetória do saneamento de Natal”. No século seguinte, estudos de Januário Cicco listavam diversas enfermidades dentre elas a febre amarela. Em 1920, a doença estava presente no então principal bairro da capital com seus 6.813 habitantes, Cidade Alta. O bairro das Rocas, com seus 2.390 habitantes, também registrava febre amarela. Com a chegada de militares durante a Segunda Guerra Mundial, o número de doentes aumentou. 

No Brasil, o primeiro surto ocorreu em Pernambuco no ano de 1645. A doença foi erradicada por 150 anos no País, mas voltou. Foi novamente banida e desde 1942 não é notificada em centros urbanos. Pesquisas científicas mostram que o vírus da febre amarela tem origem na África, embora sua primeira descrição tenha ocorrido em 1648 no México. Em 1730, a febre amarela se espalhou pela península ibérica e matou 2.200 pessoas. Nos séculos 18 e 19, os Estados Unidos também sofreram com a doença.
Fonte: Tribuna do Norte

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