Casos de tumores na família devem ser analisados com cautela por especialistas
A recomendação é clara: quem tem um parente que, em algum momento da vida, desenvolveu algum tipo de câncer, deve ficar atento aos sinais da doença e fazer exames preventivos periódicos para detectar qualquer anomalia logo no início, quando as chances de cura são maiores.
Isso não quer dizer que essas pessoas, necessariamente, terão a doença, mas serve de alerta. “Estima-se que 5% a 10% dos vários tipos de tumores tenham associação a uma pré-disposição hereditária”, explica o oncologista Roberto Fonseca, presidente do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Cancerologia e diretor da Oncomed-BH.
Segundo ele, isso ocorre porque alguns indivíduos herdam mutações de seus familiares, ou seja, nascem com determinadas alterações genéticas que aumentam a probabilidade de desenvolver o câncer no decorrer da vida. “Síndromes de câncer hereditário são mutações genéticas encontradas em uma mesma família que levam a uma prevalência maior de alguns tipos de tumores malignos”, afirma.
Ainda de acordo com o especialista, algumas síndromes do câncer hereditário podem, eventualmente, ser responsáveis pelo aparecimento de mais de um tipo de tumor no mesmo individuo, por isso não é incomum que uma pessoa que tenha curado um câncer de mama venha a desenvolver câncer de pulmão, por exemplo, por essa maior predisposição genética. “Toda família que possui algum membro acometido por câncer deve ser informada da possibilidade deste ter sido herdado e sobre procedimentos que possam levar à detecção precoce de outros indivíduos da família com melhoria da qualidade de vida”, destaca.
Triagem genética. “A triagem genética é um método utilizado para que se possa detectar a doença em fases antes de os sintomas aparecerem. Para isso, devemos nos basear nas características das doenças e utilização de testes genéticos”, afirma o oncologista.
Hábitos de vida. Não ter um caso de câncer na família não significa dizer que a pessoa nunca terá um tumor. Se de 5% a 10% dos casos têm relação com genes hereditários, os outros 90% estão ligados a outras determinantes, como o estilo de vida adotado.
Segundo Fonseca, 50% dos tumores malignos podem ser prevenidos com hábitos saudáveis, evitando fatores de risco. Muitos deles já são conhecidos da população: cigarro, bebidas alcoólicas, dieta pobre em frutas e vegetal e rica em gorduras, sedentarismo, sexo desprotegido, poluição do ar etc.
A prática de exercícios físicos é fundamental, pois ajuda a reduzir a incidência da doença.
Molécula de DNA ilustrada
Atenção à prevenção periódica
Retirar um órgão como forma de prevenção pode parecer estranho para muitas pessoas, mas existem casos com indicação médica. Pessoas com história familiar de câncer de mama ou ovário em parentes de 1º grau podem ser portadoras de mutações genéticas, hereditárias, que lhe confiram um maior risco de desenvolver a doença. “Neste caso o aconselhamento genético e a possibilidade de testes genéticos podem ser necessários, para uma discussão ampla sobre os possíveis procedimentos médicos preventivos, como mastectomia profilática ou ooforectomia (retirada dos ovários)”, explica o oncologista Roberto Fonseca.
Segundo ele, as mulheres diagnosticadas com câncer de mama antes dos 50 anos e aquelas diagnosticadas com câncer de ovário são candidatas ao teste genético. “Um teste genético positivo para BRCA aumenta consideravelmente (em até 70% durante a vida) a possibilidade do desenvolvimento de um câncer de mama. O risco de um segundo tumor primário pode ser de até 63%. Já o risco de câncer de ovário se situa entre 15% e 40%”, afirma o especialista.
Quem tem casos de câncer gástrico na família também deve ficar atento. “Famílias que tenham apresentado dois ou mais casos de câncer do estômago em parentes de 1º ou 2º grau com pelo menos um câncer gástrico difuso diagnosticado antes dos 50 deverão ser avaliadas e possivelmente submetidas a testes genéticos para a detecção de câncer gástrico difuso hereditário. Muitas famílias com esta doença apresentam mutação no gene E-cadherin (CDH1). Há a recomendação de gastrectomia profilática ou no mínimo endoscopias digestivas anuais, em portadores desta mutação”, conclui.
Fonte: O Tempo
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