A manhã era de alvoroço nos gabinetes da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) enquanto a reportagem do NOVO aguardava a delegada da Polícia Civil Kalina Leite, há onze meses à frente da pasta, na recepção do órgão instalado nas dependências da Escola de Governo.
A quadrilha que assaltou o Banco do Brasil na Avenida Prudente de Morais acabava de ser presa e os policiais que participavam da operação passavam as informações pelo rádio. Durante as trocas de mensagens entre os PMs aparece a voz de Kalina. “Parabéns aos guerreiros pela ação”, disse a secretária, pelo rádio-comunicador.
Minutos depois ela chegaria ao gabinete – um pouco atrasada para o horário marcado –, ainda atropelada pela adrenalina da operação. “Ainda estou me tremendo por conta do assalto”, comentou, antes de começar a entrevista. A situação era justificada: foi Kalina que acionou a Polícia Militar diretamente, após ser alertada sobre um possível assalto na agência bancária por um amigo.
O alerta veio através de uma mensagem por áudio no Whatsapp e ela seguiu também para o local. “Liguei na hora para Sairo (coronel e comandante do Policiamento Metropolitano) e segui para o local. Vi os caras sendo presos e colocados na mala da viatura”, relatou.
A atitude relatada mostra o envolvimento de Kalina Leite com a segurança pública da integrante da Polícia Civil potiguar desde 1999 e membro da coordenação da equipe de segurança do Pan-2007 no Rio de Janeiro, “Quando eu aceitei o convite não pude dizer que não sabia o que iria enfrentar na secretaria. Tenho mais de 15 anos de polícia, já passei pela Sesed em 2002. A missão é muito difícil, uma batalha diária”, explicou a secretária, que utiliza uma corrente dourada que tem como pingente um par de algemas.
EFETIVO
E uma das principais dificuldades enfrentadas pelo comando da Sesed no que tange a dar uma resposta direta à criminalidade é o efetivo dos órgãos que compõem a sua estrutura.
De acordo com a secretária Kalina Leite, a Polícia Militar do Rio Grande do Norte (PM-RN) vai fechar o ano de 2015 com 500 policiais a menos co quem iniciou o ano. Ao mesmo tempo a Polícia Civil luta contra um déficit de aproximadamente 70% do quadro de agentes, escrivães e delegados, mesmo com a nova turma de concursados que acaba de entrar na corporação.
Da mesma maneira o Instituto Técnico-científico de Polícia do RN (Itep-RN) ainda não firmou o seu estatuto dos servidores.
“A quantidade de policiais é uma dificuldade muito grande que temos. Uma coisa que não temos como comprar nem mandar fabricar é gente. A burocracia e a falta de verba dificulta a compra de carros, armas, equipamentos, mas o material humano não tem como”, pontua ela.
Por isso, a secretária assegura que serão realizados concursos durante o próximo ano, para todas as forças. “Para 2016 precisamos resolver urgentemente essa questão do estatuto do Itep e fazer os concursos para Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros, que já estão autorizados pelo governo. Agora vamos conversar com o TCE (Tribunal de
Contas do Estado) para tentar resolver a questão do limite de gastos da Lei de Responsabilidade Fiscal”, afirmou Kalina.
Mas, enquanto não abre os concursos para reforço de efetivo na segurança pública, a secretária aposta nas promoções de carreira. Até o momento, mais de três mil policiais receberam promoção de posto em 2015. “Precisamos investir também no profissional que está na ponta-de-lança diariamente, que está trabalhando por dois ou três homens”, completou.
Queda no número de homicídios
O Rio Grande do Norte deverá fechar 2015 pela primeira vez desde 2004 com uma redução no número de homicídios no estado. A estimativa é de que o percentual de redução com relação ao ano anterior será maior que 10%. O Ministério da Justiça requisitou aos governos um trabalho para redução de 20% ao longo dos próximos quatro anos.
Para Kalina Leite, a queda no número de homicídios se dá por uma série de fatores, mas especialmente o uso de metodologias diferenciadas de planejamento na aplicação dos recursos de segurança.
Uma delas é o acompanhamento da mancha criminal realizado pela Câmara Técnica de Mapeamento de Crimes Violentos Letais Intencionais, criada no início do ano. “Agora não há mais desencontro nos dados de mortes. A Câmara conta com várias entidades, que dispõem de inúmeras fontes e cruzam estas informações. A secretaria tem acesso a todos os números diariamente e trabalha com eles, mas não dispõe do poder de direcionar nenhum trabalho da Câmara Técnica”, explicou.
Mas os números ainda não estão dentro do que agradaria a secretária Kalina. “Em termos de segurança a gente nunca está satisfeito”, ponderou. De acordo com a gestora, os dados pouco importam para quem é atingido diretamente pela violência. O desafio, ainda segundo ela, é conseguir dar uma resposta efetiva na resolução dos casos de homicídio, através principalmente da Delegacia Especializada em Homicídios (Dehom) que atua na Região Metropolitana de Natal.
“A Dehom já tem uma estrutura diferenciada, com nove delegados, vários agentes. E agora tem o projeto da Divisão de Homicídios, que está na Assembleia, com um incremento maior ainda do trabalho. É esse tipo de ação que aplicamos com o objetivo de dar uma resposta à população”, completou Kalina Leite.
Ronda Cidadã e a necessidade do trabalho integrado das polícias
A Secretaria de Segurança é responsável por fazer valer a política pública que é a “menina dos olhos” do próprio governador Robinson Faria.
O programa do Ronda Cidadã representa uma tentativa de ruptura no modelo de policiamento aplicado historicamente no estado, com as polícias Civil e Militar atuando separadamente. O Ronda começou pela Zona Leste da capital potiguar, com foto em Mãe Luiza, Areia Preta e Petrópolis no mês de julho passado – onde já conta com alto percentual de aprovação da população, segundo pesquisa de estudantes da Universidade Potiguar (UnP) – e foi expandida para a Zona Oeste, abrangendo Pitimbu, Planalto e Guararapes.
O plano para 2016 é levar o Ronda Cidadã também para Parnamirim e Mossoró. “O maior desafio é equacionar o efetivo disponível com esse reforço de policiamento que o Ronda Cidadã exige. Até o momento estamos conseguindo fazer isso com o pagamento das diárias operacionais, que estão sendo pagas no mês seguinte ao serviço”, relatou Kalina.
Na avaliação da secretária de segurança pública do RN, o Ronda Cidadã vem alcançando resultados expressivos, apesar do curto tempo de atuação, principalmente por conta da integração de trabalho entre policiais militares e civis.
“Esta integração e responsabilização territorial entre as polícias é um projeto antigo e que já foi aplicado em vários lugares. O resultado sempre é muito bom, como nós constatamos. É preciso manter esse trabalho conjunto”, avaliou Kalina.
Fonte: http://novojornal.jor.br
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