sábado, 2 de janeiro de 2016

Contas públicas e desemprego podem tornar 2016 ainda pior

Desenvolvimentistas, que defendem mais gastos públicos e consumo, apostam em Nelson Barbosa

A crise que fez de 2015 um ano perdido para a economia brasileira pode se intensificar em 2016. Entre analistas já há quem espere recessão mais profunda nos próximos 12 meses. Os motivos para o pessimismo são as dificuldades para lidar com as contas públicas, o quadro político incerto e o mercado de trabalho, que tende a piorar, segundo os especialistas. Para quem defende a linha desenvolvimentista – mais gastos públicos e incentivo ao consumo –, a aposta está na gestão de Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda. Ele assumiu o cargo com a missão de aliar o ajuste fiscal à retomada do crescimento.

O boletim Focus, do Banco Central, prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) encolherá 3,7% em 2015. Nas contas da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o ano já começa “no negativo” em 1,8% – é o chamado carregamento estatístico. Não significa, no entanto, que esse será o desempenho da economia em 2016. O Focus, que reúne previsões de cerca de cem analistas do mercado financeiro, indica recessão de 2,81%. Zeina não descarta um número pior que esse e ainda mais intenso que o de 2015, embora não trabalhe com projeções fechadas.

“Hoje, o que está contratado é que 2016 seja ainda pior que 2015. Mesmo que eu esteja errada, mesmo que as coisas mudem, do ponto de vista de sensação térmica é um quadro mais delicado. Uma coisa é contrair quando tinha ainda alguma gordura, como em 2015. Agora perdemos essa gordura”, avalia.

Claudio Frischtak, economista e sócio da Inter B. Consultoria, também está pessimista. Acha que a economia encolherá de 3,5% a 4% neste ano. Com um forte risco, portanto, de ser ainda pior que em 2015. Para ele, o mercado de trabalho é preocupante. Represada em 2014, a piora no emprego foi um dos destaques negativos do ano. Só até novembro, o país perdeu 1,5 milhão de vagas formais. O especialista avalia que essa deterioração vai cobrar a conta, com perdas sociais que aprofundarão o quadro recessivo.

“Existe uma rede de proteção do mercado de trabalho, um pacote para amortecer a transição. Esse pacote (que inclui reservas e seguro-desemprego, por exemplo) é capaz de sustentar alguém entre três e seis meses. Mas esse colchão vai se exaurir em meados deste ano. O desemprego deve chegar a 12%”, afirma.

Esperança. Para Fernando Nogueira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, há esperança por causa das mudanças da equipe econômica. Defensor de uma corrente de pensamento desenvolvimentista, Nogueira diz que o resultado das contas públicas – o rombo previsto para 2015 é de R$ 118,6 bilhões – mostra que o ajuste, como foi idealizado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, não é a melhor solução.

“Esse projeto que priorizou cortar gastos refletiu a queda da arrecadação fiscal. Dada a experiência que não foi bem-sucedida, a dedução óbvia é que tem que retomar o crescimento econômico. Não será possível fazer o ajuste fiscal, a não ser com um ônus de desemprego enorme, que aumentaria o desarranjo da economia”, argumenta.

O jeito é crescer. Seja qual for a corrente de pensamento, economistas concordam que o caminho para resolver a maior urgência do país – o desequilíbrio fiscal – está no crescimento da economia. A divergência aparece é na forma de atacar o problema. Nogueira defende reformas que busquem o consumo, sem incentivar o descontrole da economia. Ele vê na retomada do crescimento a chave para aumentar a arrecadação e, dessa forma, começar a resolver a situação das contas públicas. “O Nelson Barbosa não vai priorizar apenas corte de gastos, mas apontará sinalização em investimento, infraestrutura e logística. Apressar as concessões, para criar um horizonte otimista”.
Raul Velloso, especialista em contas públicas, destaca que muito pouco poderá ser feito ao longo deste ano para resolver o quadro fiscal. Ele criticou a decisão de aumentar o salário mínimo em 11,6%. Velloso estima que a folha de pagamento, que inclui previdência, assistência e gasto com pessoal, representa 75% do gasto do governo.

Fonte: Jornal O Tempo

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