domingo, 31 de janeiro de 2016

Droga essencial contra a Aids cria resistência

Eficácia da terapia é maior se iniciada antes do surgimento dos sintomas
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Uma das drogas que mais marcou o tratamento contra a Aids, há 15 anos, agora enfrenta problemas para combater o HIV. Um novo estudo revela que, em parcelas significativas de pacientes da Europa e, principalmente, da África, o vírus criou resistência ao tenofovir. Segundo especialistas, o problema pode até mesmo afetar os planos da ONU de controlar a doença até 2030.
Esse antirretroviral é capaz de diminuir a carga de HIV no corpo, melhorando a qualidade de vida de soropositivos. Com quase nenhum efeito colateral, o remédio é usado na fase inicial do tratamento contra a Aids, em geral por meio do comprimido apelidado de “3 em 1” (tenofovir, efavirenz e lamivudina), ingerido diariamente.
Segundo informações do jornal “O Globo” – que cita o estudo publicado na revista médica “Lancet Infectious Diseases” –, o estudo da Universidade College London, na Inglaterra, e da Universidade de Stanford, nos EUA, analisou 1.926 soropositivos no mundo.

Essas pessoas, mesmo sob tratamento, não tiveram sua carga viral reduzida. Descobriu-se que, entre pacientes com esse perfil na África Subsaariana, 60% são resistentes a tenofovir. O mesmo aconteceu com 20% dos pacientes na Europa.
Cerca de dois terços dessas pessoas também desenvolvem resistência a outras drogas ingeridas junto com o tenofovir, comprometendo todo o tratamento. Segundo o estudo, 15% dos africanos tratados com esse remédio podem criar resistência à droga logo no primeiro ano de terapia.
“O tenofovir é parte essencial do nosso ‘armamento’ para controlar o HIV, então é extremamente preocupante ver que existe um nível tão alto de resistência”, destaca o principal autor da pesquisa, Ravi Gupta. “É uma droga potente, usada tanto no tratamento quanto na prevenção, entre os grupos vulneráveis (profissionais do sexo, por exemplo). É urgente que façamos mais para combater o problema de alta resistência”.
Risco. Gupta explica que quem começa o tratamento quando já está com o sistema imunológico fraco tem 50% mais chances de se tornar resistente. Isso é comum de ocorrer na África Subsaariana, onde governos só distribuem o tratamento gratuito para soropositivos com sintomas.
Nesse ponto, o cenário africano se difere do brasileiro, afirmou ao jornal o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita. No Brasil, desde dezembro de 2013, todas as pessoas diagnosticadas com o HIV positivo iniciam tratamento, mesmo que ainda não apresentem qualquer sintoma. Enquanto a epidemia na África é generalizada, no Brasil o problema se concentra nas populações vulneráveis.
Flash
Mundo. O total de novas infecções por HIV em 2015 caiu 35% desde o pico registrado em 2000, para cerca de 2 milhões. As mortes recuaram 42% em relação a 2004, para 1,2 milhão.
No ano passado, 81 mil pessoas iniciaram tratamento no país

Em 2015, 81 mil pessoas no Brasil começaram a tomar antirretrovirais, 13% a mais do que o registrado em 2014. O país tem atualmente 455 mil pacientes em tratamento. Desses, quase 260 mil usam o tenofovir, isoladamente ou combinado com outras drogas, segundo o jornal “O Globo”.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 22 medicamentos para HIV. Três deles podem substituir o tenofovir, embora provoquem efeitos colaterais. O paciente que não responde bem pode fazer um teste que identifica resistência a alguma droga.

“Das pessoas que seguem tratamento para HIV no Brasil, 91% têm carga viral indetectável, o que indica que temos uma alta taxa de adesão. E, quando os pacientes começam a se tratar logo depois de contrair o vírus, o risco de criar resistência diminui bastante”, afirma o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita. 
Fonte: Portal OTempo


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