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domingo, 7 de fevereiro de 2016

Repórter baleado em assalto relata momentos dramáticos e superação

Cerca de um mês após ter sido atingido por um tiro durante um assalto no conjunto Cidade Verde, em Nova Parnamirim, o jornalista Henrique Arruda está contando os dias para retomar sua rotina diária. Repórter e blogueiro do NOVO há cinco anos, e dono de um bom humor invejável, ele não esconde o desejo de voltar, o quanto antes, a assinar reportagens nas páginas de cultura do jornal. “Não aguento mais só ler o que vocês escrevem”, brinca.

Henrique está afastado do NOVO desde a primeira semana de dezembro do ano passado, quando saiu de férias. Ele voltaria ao jornal no último dia 5 de janeiro, mas teve o retorno adiado após o incidente ocorrido no dia 4 de janeiro desse ano. Ainda não há previsão de quando Henrique voltará, de fato, ao seu trabalho. “A previsão é de que eu esteja totalmente recuperado em março, mas tenho me cuidado para voltar ainda neste mês”, afirma o jornalista.

Enquanto não volta a assinar seu nome nas páginas de cultura do NOVO, Henrique passa parte do seu tempo lendo livros, assistindo filmes e séries e recebendo os cuidados das pessoas mais próximas. Matheus, irmão caçula do jornalista, é o responsável por cuidar mais de perto da sua saúde.

A capacidade motora de Henrique ainda não é a ideal, o que exige atenção redobrada. Ele precisa de auxílio para, por exemplo, deitar e se levantar da cama. A alimentação do jornalista também é motivo de preocupação; ela está sendo feita à base de comidas leves, como sopas, e alimentos pastosos.

Todavia, o semblante alegre mostra que, apesar do susto, Henrique está bem. A expressão do recifense de 24 anos só se altera quando ele é lembrado do ocorrido de um mês atrás. As cenas do assalto e as dores da bala perfurando a sua pele dificilmente serão apagadas de sua memória.

Os olhos se enchem de lágrimas quando recorda que poderia ter se tornado mais um número para as tristes estatísticas da violência em Natal. Por muito pouco, a vida do jornalista não foi tirada naquela segunda-feira. “Meu maior medo foi o de morrer sozinho, no meio da rua”, relata Arruda.

Sobre o assalto, o repórter conta que foi abordado por um criminoso logo após desembarcar do transporte público nas redondezas do terminal de ônibus do conjunto Cidade Verde, por volta das 22h. Henrique retornava para casa após ter passado a tarde e parte da noite com amigos em um shopping da cidade.

“Quando desci do ônibus e entrei em uma rua paralela à Avenida Gastão Mariz percebi uma movimentação estranha, alguém estava atrás de uma árvore”, relembra. “Segui caminhando quando, logo depois, fui abordado por um rapaz armado. Na hora, não consegui identificar se ele estava com um revólver ou uma faca na mão. Pedi para que ele tivesse calma, que eu entregaria todos os meus pertences. Estava com o meu celular na mão e uma mochila nas costas. Entreguei o celular para ele. Nesse momento identifiquei que ele estava com um revólver na em sua mão. Era muito pequeno. Pedi para que ele não atirasse contra mim. Ele deu um passo para trás e, a menos de um metro, atirou”.

Ferido, Henrique caiu no chão enquanto o criminoso fugia do local do roubo. O assaltante furtou apenas o seu celular. “Ele correu com o meu celular e eu fiquei no chão. Minhas pernas doíam muito, comecei a transpirar bastante. Tinha muito medo que ele voltasse e atirasse novamente”.

Gritando por socorro desesperadamente, Henrique conseguiu levantar e correr até a Avenida Gastão Mariz. O jornalista cairia pela segunda vez, agora na calçada da via. Ele relembra que no momento passavam muitos carros pela rua, mas nenhum parou para prestar socorro. “Eu gritava por ajuda, mas todos passavam direto. Até um carro da Polícia Militar negou ajuda”, conta.

Henrique conseguiu se levantar e buscar ajuda em uma academia de jiu-jítsu que ainda estava aberta. Cerca de seis pessoas estavam dentro do estabelecimento. O jornalista atravessou as quatro faixas da Avenida Gastão Mariz, enquanto carros e motos desviavam dele, e caiu no tatame da academia. “Lembro que pedia para eles não me deixarem morrer”, conta. 

O socorro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegaria em seguida. Henrique seria levado às pressas para o Hospital Walfredo Gurgel. A polícia ainda não tem pistas de quem atirou no jornalista.

Cirurgia e recuperação

De acordo com o prontuário médico fornecido pelo Hospital Walfredo Gurgel, Henrique Arruda chegou à maior unidade de saúde do estado por volta das 22h30. Ainda consciente, o jornalista recorda que foi levado de imediato sala de cirurgia.`

Henrique estava com o seu crachá do NOVO e com todos os seus documentos, o que facilitou sua identificação. Além disso, o periodista conseguiu lembrar-se do contato telefônico de uma amiga, Leila de Melo, para que funcionários do Walfredo pudessem avisar da sua condição de saúde.

Ele se recorda de todos os momentos desde quando foi atingido pelo disparo até o instante em que foi sedado para o início da cirurgia. O procedimento para retirada da bala, que passou pela costela e estômago do jornalista antes de ficar alojada em seu duodeno, durou em torno de quatro horas. 

Foi um sucesso. “Quando acordei e vi aquela cicatriz imensa no meio da barriga entrei em desespero”, contou Henrique. Ao todo, foram dados 22 pontos para fechar o corte aberto para a realização do delicado procedimento cirúrgico.

Henrique mora sozinho desde 2010, quando se mudou de Recife, onde moram seus familiares, para tentar a sorte na capital potiguar. Seu maior medo era que os seus pais soubessem através da mídia sobre a tentativa de latrocínio. O que, felizmente, não aconteceu. “Um enfermeiro me mostrou uma matéria dizendo que meus familiares estavam vindo de Recife para ficar comigo. Acabou que foi eu quem fiquei sabendo deles pela mídia”.

A família de Henrique foi avisada por Leila, amiga de longa data do jornalista, sobre o que tinha acontecido. Eles chegaram a Natal na manhã do dia 5 de janeiro ainda sem ter a certeza de qual era a condição clínica do repórter. 

O período de internação de Henrique no Hospital Walfredo Gurgel durou cerca de uma semana e meia. Quando já dava sinais de melhora, ele foi transferido para um hospital particular da cidade.
Na unidade de saúde, o jornalista foi submetido a um novo processo cirúrgico, dessa vez para a retirada de pus que havia se formado na região onde a bala havia ficado alojada. Também foi preciso colocar drenos em sua região torácica.

Durante o período em que esteve internado, Henrique recebeu poucas visitas, restritas apenas a familiares e amigos mais próximos. Todos tentavam levantar a autoestima do jornalista.

A alta médica veio há cerca de duas semanas. Henrique voltou para sua casa e, agora, recebe constantemente amigos em seu quarto recém- reformado. Alguns colegas mais próximos, conta Matheus, irmão caçula do jornalista, aproveitam a situação para fazer piada da condição de Arruda. “Estou montando uma lista com as piores piadas que eles contam”, afirma em tom de brincadeira.

O ambiente positivo está sendo fundamental para a recuperação de Henrique. Apesar do trauma deixado pela bala, o jornalista não tira o sorriso do rosto e a certeza de que dias melhores estão para vir. “Daqui a pouco vou voltar a fazer o que gosto e a ser o velho Henrique”, vaticina.

Planos para o futuro

O quarto de Henrique Arruda reflete bem a sua personalidade. As paredes são preenchidas por prateleiras cheias de livros e quadros expostos como troféus entre os móveis. Logo acima da sua cama está emoldurado o encarte do seu primeiro filme, um curta intitulado “Ainda não lhe fiz uma canção de amor”, que foi lançado no fim do ano passado. Sobre o projeto, Henrique afirma que pretende, assim que estiver totalmente recuperado, rodar com a produção por cidades do Nordeste.

O filme também será inscrito em editais e premiações. Questionado sobre projetos futuros, o jornalista-diretor despista e diz que ainda não tem cabeça para pensar em algo novo.
Por falar em novo, Henrique espera voltar até o fim do mês à redação do NOVO. Afinal, as pautas de cultura estão sendo produzidas a todo vapor e sua ausência está sendo sentida por todos, principalmente pelos leitores que sempre eram agraciados com seus textos.]

“Fiquei extremamente triste por saber que rolaram pautas bem interessantes de cultura nos últimos meses. Queria todas elas para mim”, brincou.
Fonte: Novo Jornal

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