Na década de 80, Ritchie fez muitos homens fantasiarem com uma mulher que aparecia à luz de um abajur cor de carne, à meia-noite. Mais de duas décadas depois, o cantor de origem inglesa radicado no Brasil há 35 anos confessa que entrou em conflito com a “menina veneno” de sua música. “Teve uma hora que aquela coisa toda do público só pedir essa música me incomodou”, confessa ele em entrevista exclusiva ao EGO.
Diferente da letra da canção, Ritchie não chegou a pensar que o mundo era pequeno demais para ele e sua musa, mas foram necessários 25 anos para ele entender o sucesso. “Tivemos alguns conflitos, mas agora estamos em paz”.
Hoje o músico faz shows menores pelo Brasil e atrai um público médio de cinco mil pessoas que engrossam o coro em outras de suas canções como “Transas” e “A Vida tem Dessas Coisas”.
Em conversa com o EGO, ele ainda fala de como veio parar no Brasil a convite dos Mutantes, das aulas de inglês que deu para outros músicos como Gal Costa e Paulo Moura e muito mais.
EGO: Tanto tempo no Brasil e você ainda carrega o seu sotaque inglês...
RITCHIE: (risos) Normal. Acho que tem hora que a gente desiste de apurar (o sotaque). Teve um momento em que relaxei e parei de me cobrar. Acho que melhor que isso não fica.
Você morou no Rio e em São Paulo, certo?
Sim. Cheguei ao Brasil em 1972 e, depois de uma breve estadia no Rio de Janeiro, vim para São Paulo. Morei aqui por um ano na Cantareira e outros lugares, na casa de amigos. Aquela coisa até achar o meu lugar. Tive uma banda em São Paulo e quando ela acabou em 73 eu me mudei para o Rio com a minha mulher, que é carioca. Daí, fiz do Rio a minha base. Mas tenho uma ligação muito forte com São Paulo, minha banda é daqui. Mas como gringo, gosto do horizonte do Rio, daquela coisa exótica da cidade. Quando quero levar a vida a sério, venho para São Paulo.
Como gringo, gosto do horizonte do Rio, daquela coisa exótica da cidade. Quando quero levar a vida a sério, venho para São Paulo
Bom, o disco de 83, “Vôo de Coração”, completa 25 anos e o sucesso “Menina Veneno” também. Imagino que tanto tempo depois você tenha certa estabilidade, não?
Com certeza. Tenho que dizer que todo o meu sucesso é sempre comparado à “Menina Veneno”. Foi mais difícil crescer artisticamente com o sucesso da música, sendo o primeiro trabalho. Foi um fenômeno de vendas, um estouro. O público tem uma tendência de comparar tudo o que faço àquilo.
O LP vendeu mais de um milhão de cópias, um número bem expressivo para a época.
Para te dar uma idéia, “Menina Veneno” foi mais executada que “Thriller”, do Michael Jackson , nas rádios brasileiras. Na época, imaginava que fazer um disco seria a glória, mas não fazer sucesso, muito menos “aquele” sucesso todo.
Mas te incomoda o fato de te associarem à “Menina Veneno”?
Já me incomodou mais. Hoje em dia estou mais em paz com a minha obra. Entendo que a minha obra hoje está estabilizada. São 25 anos de carreira solo. Então, estou em paz com meu repertório.
Então você já brigou com a “Menina Veneno”?
Um pouquinho. (risos) Tivemos alguns conflitos, mas agora estamos em paz. Teve uma hora que aquela coisa toda do público só pedir essa música me incomodou. Não estava conseguindo evoluir musicalmente, ou melhor, estava evoluindo, mas não era aceito. Meus fãs já consomem o Ritchie e sua obra toda e não apenas uma música.
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