Erídio Dias, de 32 anos, estava em Mariana em 2015 no rompimento da barragem, mas saiu ileso; agora no último dia 25 ele estava em Brumadinho na tragédia e está desaparecido
Erídio era soldador e era encaminhado cada hora para uma cidade |
A parada para o almoço salvou a vida de Erídio Dias, de 32 anos, em 2015. Ele escapou da lama que desceu da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas Gerais. Três anos depois, o destino foi outro e o soldador foi arrastado pela barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana da capital. Desde então ele está desaparecido.
"Infelizmente desta vez ele não teve a mesma sorte que em Mariana. Em Brumadinho, ele estava almoçando no refeitório quando veio aquele monte de lama e levou todo mundo. Nossa esperança agora é encontrar ele seja vivo ou morto. Tem horas que pensamos que ele pode estar em uma mata, mas se ele estiver morto e encontrar o corpo ao menos acaba com nossa angústia", disse a tia de Dias, Luzia Aparecida Margarida Felipe, de 49 anos.
Segundo ela, em Mariana o sobrinho perdeu vários amigos. Ele estava lá a trabalho, também como soldador, e decidiu ir almoçar longe de onde a barragem de Fundão estourou. Por causa disso sobreviveu e ligou para a família contando sobre o desastre e disse aos familiares que "escapou por pouco".
Segundo a família, no trabalho como soldador Dias é encaminhado cada dia para uma cidade, conforme demanda da Vale. "Meu sobrinho falava que depois do que aconteceu em Mariana as barragens estavam seguras. A gente não acreditava que ia acontecer uma tragédia dessas de novo. Com isso ele não sentia medo de trabalhar em Brumadinho", lembra Luzia.
A família é natural de Sem Peixe, na Zona da Mata de Minas Gerais, e Dias passou o natal do ano passado com a avó, a mãe e todos os outros familiares. Ele é o caçula de seis irmãos e tem uma filha de 7 anos. Logo após o Natal, Dias avisou que ia para Brumadinho e começaria a trabalhar por lá.
"Eu estou tão triste que mal consigo acompanhar as notícias pela televisão. Desde Mariana, mesmo com ele sobrevivendo, nós já ficamos muito traumatizados com essa história de romper barragem", lamentou Luzia.
Segundo ela, os irmãos do soldador vieram para Belo Horizonte para coletar material para o Instituto Médico-Legal (IML). A mãe e a avó de Dias estão inconsoláveis, segundo Luzia. A filha dele foi levada para perto da família e pergunta muito pelo pai.
"Tem que acabar com essas barragens"
A revolta por ter um sobrinho passando pelo rompimento de barragens por duas vezes fez com que Luzia fizesse um apelo as autoridades. "Tem que acabar com essas barragens. Já é a segunda vez que acontece e mata um monte de gente inocente. Gente que está trabalhando não tem condições", reclama.
Luzia conta que tem uma outra sobrinha que mora perto de barragem e na casa da família em Sem Peixe passa o mineroduto. Tudo isso deixa a família bastante apreensiva com novas tragédias.
"Os donos das mineradoras não moram em área de perigo, mas eles têm que pensar em quem é pobre e não tem para onde ir. A gente fica aqui sujeito a ser arrastado por essas lama. Parece que eles só pensam em dinheiro. Tem que pensar mais no povo", concluiu.
Fonte: O Tempo
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