quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Pesquisa realizada no RN encontra primeiro caso de cavalo infectado com protozoário da Doença de Chagas no Brasil

Estudo desenvolvido dentro de programa de doutorado da UFRN também localizou o agente em ovinos e caprinos.
Trypanosoma cruzi - da Doença de Chagas - em amostra colhida de animal no RN — Foto: Vicente Toscano/Cedida
Por Igor Jácome, g1 RN
Uma pesquisa realizada por um médico-veterinário do Rio Grande do Norte encontrou o primeiro caso, no Brasil, de um cavalo infectado com o protozoário trypanosoma cruzi, responsável pela Doença de Chagas. Esse também é um dos primeiros casos descritos pela ciência no mundo.

A pesquisa acaba de ser submetida para publicação da revista científica Parasitology Research e faz parte do doutorado do médico-veterinário Vicente Toscano, que havia estudado a presença do protozoário em cachorros durante o mestrado.

O estudo ocorre no laboratório de biologia dos parasitos, dentro do Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A pesquisa também localizou caprinos e ovinos infectados pelo mesmo agente. As infecções desses animais são as primeiras descritas no Rio Grande do Norte. A pesquisa ocorreu em oito municípios das regiões Agreste, Central e Oeste.

"Os animais servem de sentinelas para novos casos de zoonoses. Se o poder público vigiar os animais, ele conseguirá prever o surgimento de surtos e epidemias nos humanos, em determinadas regiões", ressalta o pesquisador.

De acordo com o médico-veterinário, a ideia da pesquisa é entender o ciclo da transmissão da doença de chagas para humanos e a importância também dos animais domesticados nesse processo. A maior parte das pesquisas apontam para a infecção dos insetos no contato com animais silvestres.

“O barbeiro não nasce infectado. Quando ele surge em uma casa, infectado, e não tinha ninguém daquela casa já infectado, a gente tem que entender onde é que esse besouro teve contato com o trypanosoma cruzi. É por isso que começamos a investigar os animais. Eu já tinha relatado casos em cães e agora, no meu doutorado, em caprinos, ovinos e no cavalo”, explica o profissional.

O pesquisador também realizou o sequenciamento genético do protozoário, que coincidiu com o mesmo sequenciamento encontrado nos insetos barbeiros e nos humanos.

“A partir disso, a gente pode afirmar que se trata do mesmo parasito e que essas espécies estão inseridas no mesmo ciclo”, afirmou o pesquisador.

De acordo com o profissional, o Rio Grande do Norte tem atualmente cerca de 15 mil pessoas infectadas com a doença de chagas.

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Animais não são vilões
O médico-veterinário ressalta que a presença do agente etiológico da Doença de Chagas nos animais não impede o consumo de carne, leite e outros derivados dos animais. Ele ressalta que a doença só é transmitida pelo inseto barbeiro.

“É importante deixar muito bem claro que os animais não são os vilões. Eles estão inseridos no ciclo de transmissão do qual inclusive o homem faz parte. Então não adianta matar animal, nem maltratar o animal. Ele é apenas uma sentinela. Se as autoridades em saúde querem saber se a doença está ativa em algum lugar, primeiro olhem os animais, porque se os animais estiverem infectados, muito provavelmente em um espaço de tempo você conseguirá identificar pessoas doentes também. Essa é a importância do nosso estudo: mostrar esses animais como sentinelas de novos casos”, afirmou o pesquisador.

Leishmaniose
Outro ponto na pesquisa de doutorado trabalhou com a identificação genética da leishmania no RN. Baseado em dados ainda não publicados, o pesquisador chamou atenção para o diagnóstico da leishmaniose em cães.

De acordo com ele, existem parasitos parecidos com a leishmaniose que podem dar reação cruzada nos exames. Dessa forma, o diagnóstico requer uma “atenção especial”, pois o resultado falso positivo pode resultar na eutanásia, sem necessidade, do animal.

“A gente propõe fazer um diagnóstico parasitológico junto com o sorológico e molecular, para que se possa determinar de forma mais precisa se os animais estão ou não com Leishmaniose”, pontuou

O que é a Doença de Chagas
A Doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é transmitida ao homem através do inseto conhecido como barbeiro (Triatoma infestans). Ela pode afetar o coração e o sistema digestivo.

A transmissão pode ocorrer no contato com as fezes contaminadas do barbeiro, por via oral (com a ingestão de alimentos contaminados), de forma vertical (em que a mãe passa para o filho durante a gestação ou parto), transfusional ou até mesmo acidental.

Segundo o Ministério da Saúde (MS), a doença de Chagas pode se manifestar de em duas fases, sendo a aguda com apresentação de sintomas, ou não, e a crônica, que se torna mais crítica.

Na fase aguda, os sintomas que podem aparecer são:
febre prolongada
dor de cabeça
fraqueza e mal-estar
inchaço no rosto e nas pernas
Na fase crítica, a doença pode apresentar problemas cardíacos e digestivos.

Prevenção e tratamento
Para evitar o contato com o inseto barbeiro, vetor da Doença de Chagas para os seres humanos, as autoridades de saúde alertam para que a população fique atenta com os cuidados dentro de casa.

Caso encontre o barbeiro, não o esmague ou manipule com as mãos. A orientação do MS é acionar equipes técnicas da Vigilância de Saúde locais para eliminar o inseto ou possíveis colônias.

Fonte: G1 RN

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