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sábado, 17 de setembro de 2022

RN tem o pior Ensino Médio público do Brasil, aponta Ideb

Desempenho das escolas de Ensino Médio, como o Atheneu, está em queda no RN. Nota do Estado caiu 0,4 ponto desde 2019 - Foto Adriano Abreu: Arquivo da Tribuna do Norte
Fonte: Tibuna do Norte
Repórter: Felipe Salustino 
O Rio Grande do Norte teve, em 2021, a pior nota do País no Ensino Médio Público da rede estadual, segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O Estado obteve apenas 2,8 como média. O desempenho terminou abaixo das médias brasileira  e do Nordeste para o mesmo recorte, que ficaram em 3,9 e 3,8, respectivamente.  O Paraná obteve o melhor desempenho do Brasil entre estudantes de escolas estaduais, com nota 4,6, ou seja, 1,8 ponto a mais do que o registrado no RN. Estados nordestinos como Paraíba, Alagoas, Sergipe e Piauí também atingiram números bem acima do Estado potiguar: 3,9, 3,5, 39 e 4,0, respectivamente.

O péssimo desempenho no exame aprofunda uma tendência de queda nas notas da rede estadual de Ensino nos últimos anos. Em 2020, por exemplo, quando foram divulgadas as notas relativas ao ano de 2019, a nota do Estado era 3,2. Ou seja, de lá para cá houve uma queda de 0,4 ponto. Da mesma forma, a colocação do RN está numa descendente. Naquele ano, o Ensino Médio da rede do Estado dividiu as piores colocações com Pará, Amapá e Bahia. Dessa vez, sobrou a última colocação isolada.

No recorte total, que reúne as avaliações de alunos de escolas públicas e privadas, o Estado conseguiu desempenho melhor apenas do que o Amapá no seu Ensino Médio. Os dados apontam  3,4 pontos para o RN e  3,3 para o AP. O desempenho dos estudantes do Ensino Fundamental também colocaram o Rio Grande do Norte na parte de baixo do ranking nacional. No anos iniciais da Educação Básica (do 1º ao 5º ano), o Estado recebeu nota 5,0, desempenho melhor somente do que o do Amapá, com nota 4,9. 

A média do Brasil é de 5,8. Nos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), o RN obteve resultado levemente mais confortável (4,4 pontos). Neste caso, o desempenho do Estado foi igual ao do Pará e melhor do que o do Maranhão (4,3) e do que o do Amapá (4,1). Para o Ensino Fundamental, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) compilaram o desempenho dos estudantes das redes pública (estaduais e municipais) e privada, sem separação de recortes.
Ideb por unidade da federação - Rede Estadual - 2021 - Foto: Idebe/Inep Arquivo da Tribuna do Norte
A meta do Brasil para o Índice em 2021 era atingir nota 6,0 para os anos iniciais do Ensino Fundamental, 5,5 para os anos finais e 5,2 para o Ensino Médio. Os índices ficaram em 5,8, 5,1 e 4,2, nesta ordem. O cálculo do Ideb obedece à seguinte fórmula: os resultados dos testes de língua portuguesa e matemática são padronizados em uma escala de zero a dez; depois, a média dessas duas notas é multiplicada pela média das taxas de aprovação das séries de cada etapa avaliada (anos Iniciais, anos Finais e Ensino Médio), que, em percentual, varia de zero a cem. Os resultados mostram que o país, em um contexto de pandemia, não cumpriu nenhuma das metas. “A pandemia trouxe alteração expressiva”, diz o presidente do Inep, Carlos Moreno. Segundo o presidente do Inep, agora será necessário construir um novo plano de metas para o Brasil.

“O Estado abandonou os alunos”, diz especialista

A professora Cláudia Santa Rosa, doutora em Educação, afirma que a pandemia de covid-19 não pode ser responsabilizada unicamente como causa do desempenho dos estudantes do Ensino Médio no Rio Grande do Norte, porque, segundo, ela programas de estímulo à Educação já vinham sendo desmobilizados no Estado. “O Ideb do RN vinha numa crescente, com a implantação de ações arrojadas a partir de 2016. Mas em 2019, muitas dessas ações foram interrompidas ou fragilizadas”, pontua.

A crise sanitária, na avaliação de Santa Rosa, aprofundou o cenário. “A pandemia apenas mostrou que a situação poderia ser pior”, afirma. A especialista fez críticas ao modo como as atividades escolares foram geridas a partir do fechamento das escolas. “Primeiro, o Estado anunciou que o trabalho remoto era uma ação voluntária dos professores”, sublinha.

“A primeira portaria que estabeleceu o trabalho remoto em todas as escolas só aconteceu em outubro [de 2020], ou seja, perdemos muito tempo. O Estado abandonou os alunos que, por sua vez, abandonaram a escola. Houve uma apatia durante a pandemia. Se o Estado não reagir, o resultado da próxima prova [do Ideb, que acontecerá em 2023], será pior do que o atual”, seguiu a especialista, em tom de crítica.

Segundo Santa Rosa, é preciso investimentos em material estruturado, com esforços que devem ser empreendidos pelo Estado e pelos municípios, uma vez que os números sobre o Ensino Fundamental indicam para uma cenário de dificuldades também nesta fase do ensino.

“É preciso tratar a Educação como prioridade, com investimentos em materiais estruturados, que são aqueles com foco na aprendizagem e vão muito além do livro, por exemplo. Também é necessário orientação aos professores e rigidez no funcionamento das escolas, para que funcionem com regularidade. Isso é importante para combater  o atraso acumulado pelos estudantes”, orienta Santa Rosa. 

SEEC: Estados “distorceram” notas do Ideb

A Secretaria Estadual de Educação do RN afirmou que as notas do Ideb não são comparáveis, pois outros Estados implantaram “aprovações automáticas em 2021 próximas de 100%, alavancando e distorcendo seus IDEB, por isso, inadequados para comparações entre entes federados”. Como houve aprovação automática em outros estados, segundo a Seec, o ranking de notas não seria confiável.

A Secretaria apontou também que o Ideb trouxe dados positivos. “A boa notícia é de que nas escolas da rede, especialmente nos níveis Fundamental 2 e Médio não houve queda relevante na aprendizagem de matemática e houve avanço na aprendizagem em língua portuguesa”, apontou a Seec, complementando que houve “crescimento constante na aprendizagem entre 2013 e 2021”.

Como forma de modificar o cenário do Ensino Médio, a Secretaria de Educação listou algumas medidas futuras. São elas: “a atualização nas formações de gestores na rede; a formação de docentes sintonizada com a Base Nacional Comum Curricular; a valorização dos profissionais da educação e das suas condições de trabalho, especialmente a reorganização das cargas horárias priorizando o trabalho em uma única escola; a ação de recuperação e melhoria da infraestrutura física e de equipamentos das escolas; a ampliação do número de escolas em tempo integral; a integração da educação básica com a técnica e profissional em todos os níveis e modalidades”, entre outras.

Por fim, para a Seec, os índices abaixo da média, também são fruto de uma “cultura da reprovação”. “Já está sendo discutido com a comunidade da escola, gestores, docentes, técnicos, estudantes e familiares, no âmbito do Currículo Potiguar, a mudança da cultura da reprovação para a cultura da aprendizagem. Há uma dicotomia em nosso Estado: os estudantes revelam um crescimento na aprendizagem e não há crescimento no índice de aprovação”, disse.

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