Um mergulho no Nordeste
Paixão, vingança e questões familiares mal resolvidas formam o tripé que sustenta a nova minissérie global “Amores Roubados”, que estreia no próximo dia 6 de janeiro. Inspirada no folhetim pernambucano “A Emparedada da Rua Nova”, de Carneiro Vilela (1846-1913), a minissérie traz no elenco principal o ator potiguar César Ferrario, dos Clowns de Shakespeare, no papel do moto taxista mercenário Bigode de Arame. O lançamento oficial para a imprensa acontece hoje, no Rio de Janeiro. Os papéis principais da trama serão vividos por Murilo Benício, Patrícia Pillar, Ísis Valverde e Cauã Reymond; porém, além de Ferrario, outros atores que atuam longe do eixo Rio-São Paulo, como Irandhir Santos (“O Som ao Redor”) e Jesuíta Barbosa (“Tatuagem”) foram escalados para dar mais credibilidade ao sotaque.
Um dos méritos de “Amores Roubados”, segundo críticos de televisão que já tiveram contato com o projeto, está na capacidade de desmontar estereótipos e ampliar a impressão que se tem sobre o Nordeste.
joana limaAtor
potiguar César Ferrario participa hoje, no Rio de Janeiro, do
lançamento da minissérie Amores Roubados, que estreia em janeiro na
Globo
Com direção geral de José Luiz Villamarim (“Avenida Brasil” e “O Canto da Sereia”), bem acompanhado pelo experiente diretor de fotografia Walter Carvalho, grife do cinema nacional com mais de 80 filmes no currículo, a minissérie é ambientada em um sertão contemporâneo e tem como enredo básico a história do Don Juan que entra em apuros ao se envolver com a filha de um homem rico e poderoso da capital – a história original, publicada semanalmente entre 1909 e 1912, acabou se tornando lenda urbana no Recife.
As gravações externas foram feitas em Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e Paulo Afonso (BA), e as internas em estúdios no Rio de Janeiro. A última cena de César Ferrario, que começou a trabalhar em julho, foi rodada semana passada. Para contar um pouco sobre a nova atração global, César Ferrario, natural de Mossoró e ator profissional desde 1993, conversou com a TRIBUNA DO NORTE sobre sua segunda experiência com televisão. A primeira foi na novela “Cheias de Charme” (2012), onde contracenou com a companheira de vida Titina Medeiros.
Qual seu personagem em “Amores Roubados” e até onde você pode contar sobre ele?
Bigode de Arame é moto taxista mas na verdade é um matador de aluguel, e é assim que ele se conecta na trama. Ele se coloca a serviço de uma rede de interesses que envolve paixão, ódio e questões familiares que fazem com que os serviços desse matador seja necessário.
E como foi a preparação para encarnar o bandido?
Houve tempo de preparação e essa foi a maior diferença que senti com relação a novela, onde o processo é mais rápido. Tivemos acompanhamento de um preparador de elenco experiente, que também trabalha com cinema, assim você chega mais tranquilo para as gravações; com repertório de elementos do seu personagem, que já passou por avaliação e ajustes do diretor. Traz mais segurança.
Que referência buscou para criar o Bigode de Arame?
Não teve uma única referência, e muitas foram surgindo durante as gravações. Lembrei muito do Zeca Diabo (Lima Duarte em “O bem Amado”), apesar de serem bem diferentes são semelhantes na dialética de violência com pinceladas de paspalhice. Tem um personagem de “O Grande Sertão Veredas” (de Guimarães Rosa), um bandido, que mata e é extremamente violento, mas tem família, amigos, vizinhos, assiste televisão e tem um espaço na normalidade, tem um lugar para o afeto. Isso ajudou a me livrar da caricatura.
Como seu papel está vinculado a cenas de ação, você usou dublê em algumas cenas?
Usei, tiveram cenas bem complexas que precisei de dublê. Inclusive pude assistir e achei fantástico, pensei que deveria ter isso no teatro: estava me sentindo trabalhando ali sentado vendo alguém no meu lugar fazendo as cenas que exigiam essa técnica.
Hoje os artistas ainda precisam ir para o eixo Rio-São Paulo para se destacar nacionalmente?
É difícil ter uma resposta definitiva, são muitas realidades, muitas circunstância que definem esse tipo de coisa. Minha própria relação com os Clowns ela não tem tanto contraste na certeza dessa resposta, de certo ou errado, pois se prestarmos atenção o grupo obtém recursos fora do RN para sua existência e circulação dentro e fora do país; nossa sede é aqui, nossas raízes estão aqui, mas as possibilidades de trabalho não se restringem e isso é ótimo. Vou fazer o que eu puder fazer pra que isso permaneça, e por enquanto está dando certo.
Você vem do teatro, teve experiência com novela (“Cheias de Charme”) e agora está fazendo uma minissérie mais puxada para o cinema. Quais as particularidades dessas linguagens?
Vejo a novela como o primeiro degrau dessa relação com o audiovisual, a minissérie dá um passo a mais, tem um acabamento maior, temos mais tempo de preparação. Por essas experiências já imagino como seja fazer cinema. Apesar de serem meios distintos, o legado acumulado no teatro torna as coisas menos complicadas. O grande desafio da televisão foi ter que aprender em um curto espaço de tempo, enquanto a gente fazia.
Tribuna do Norte
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