Helenilson Rocha foi condenado por matar a mãe, Beatriz Rocha |
Vinte e dois anos e dois meses de prisão em regime fechado é o tempo que Helenilson Donato da Rocha deverá passar na prisão. O representante comercial, hoje com 47 anos de idade, foi julgado ontem por júri popular e condenado pelo assassinato da própria mãe, uma senhora de 80 anos. O crime ocorreu no dia 9 de fevereiro de 2014, uma data que mudou a vida dos Rocha pela forma trágica que se desenhou a morte de Beatriz Rosalina da Rocha, matriarca da família. Segundo foi constatado pelas investigações policiais e juntado aos autos do processo, a idosa foi assassinada com golpes de faca no pescoço e logo em seguida teve o corpo carbonizado devido ao incêndio que o condenado teria começado na casa, em uma tentativa de encobrir o homicídio.
A sentença foi proferida no final da tarde pela juíza Eliane Alves Marinho, da 1ª Vara Criminal, após o corpo de jurados considerar o réu culpado pelos crimes de homicídio qualificado e incêndio criminoso. O homicídio foi cometido em uma residência no Conjunto Pirangi, bairro de Neópolis, Zona Sul de Natal, onde a vítima morava há quase três décadas. À primeira vista, dona Beatriz teria sido alvo de um acidente. Ao menos era o que todos da vizinhança e familiares que correram para socorrer a idosa e apagar o fogo (que tomava o local) pensavam. Contudo, naquela mesma tarde essas perspectivas mudariam e o que se desenharia a partir dali seria os indícios de um assassinato.
Caiu por terra a tese de fogo acidental quando o delegado que esteve à frente do caso logo suspeitou de que houvera um crime devido ao forte cheiro de produtos inflamáveis na casa, após o incêndio ser controlado pelo Corpo de Bombeiros. Com a conclusão da perícia técnica, ficou constatada a utilização de álcool como elemento acelerador para o incêndio.
Além disso, pesou sobre Helenilson, filho que morava com dona Beatriz há alguns anos, o fato de que muitas testemunhas não viram a vontade de ele tentar salvar a mãe durante o incêndio. Segundo depoimentos colhidos ontem no julgamento, o representante comercial mantinha a entrada da casa trancada enquanto gritava por socorro. Ele não esboçou ação para tentar arrombar o portão ou ajudar os vizinhos, que desesperadamente tentavam quebrar o cadeado. Outro fato que incriminou Helenilson foi ele ter deixado a casa logo após o fogo ser parcialmente controlado e se dirigir para um bar próximo.
“O réu, no momento em que se tentava apagar o fogo, foi até um bar e tentou esfaquear uma pessoa para pegar um carro para fugir”, afirma uma testemunha no processo. “A depoente ouviu falar que o réu chegou nesse bar e pediu a chave do carro e, segundo disseram, o réu disse que teria matado a mãe e que queria o carro”, completa a peça.
O condenado foi preso em flagrante no mesmo dia por homicídio qualificado e incêndio criminoso. Passou um período no Centro de Detenção Provisória (CDP) Pirangi, que fica no mesmo bairro onde ocorreu o crime, e depois foi transferido para a Penitenciária Estadual de Parnamirim, onde esteve até a realização do julgamento.
Não há motivo aparente para o assassinato de dona Beatriz. Helenilson seguiu o julgamento inteiro, nas suas falas, negando a autoria do crime. Ele admitiu que o incêndio foi criminoso, mas que não teria sido o autor e sim alguém que adentrara na residência. Seus familiares, que estiveram em peso no julgamento, também não apontam nenhuma justificativa aparente, somente a certeza de que o culpado do crime foi o representante comercial. “A índole dele é péssima, é um psicopata. Queremos a condenação, que a justiça seja feita com a pena máxima”, afirmou a técnica de segurança do trabalho Hemistdan Rocha, irmã mais nova do acusado.
DEFESA DIZ QUE VAI RECORRER DE DECISÃO
O julgamento de Helenilson Donato da Rocha pelo assassinato da própria mãe começou às 9h da manhã de ontem, no Fórum Miguel Seabra Fagundes, no bairro de Lagoa Nova. Três testemunhas foram ouvidas pessoalmente no tribunal. À frente do júri popular, responsável por definir a culpa ou inocência, cinco homens e duas mulheres.
A defesa do condenado afirmou à reportagem que vai recorrer para tentar reverter o resultado. “O mais importante é fazer justiça, é o que queremos. Nossa tese é a de que ele nem estava no local na hora do crime”, comentou o advogado de defesa Francisco Assis da Silveira. Segundo ele, em cinco dias ele e seu colega, Genilson Ferreira, deverão montar a peça para o recurso.
Já o promotor de Justiça Augusto Azevedo não tinha dúvidas da culpa de Helenilson. “Temos configurado, sem dúvidas, o homicídio qualificado e até excesso de provas. Os autos são claros”, avaliou o representante do Ministério Público Estadual.
O réu chegou escoltado por dois policiais militares. De camisa social preta e calça cinza, Helenilson demonstrava serenidade. Com os braços para trás, ele logo se sentou no seu assento e lá ficou. Pouco antes da fala da juíza que conduziu o júri, uma pequena conversa com um de seus advogados de defesa, Francisco Assis da Silveira.
Às 9h30 foi chamada a primeira testemunha. A pedido, o réu foi retirado do tribunal para que a mulher pudesse dar seu depoimento. “Ele é muito dominador, fiquei ressentida. Ele domina até com os olhos”, justificou a testemunha à juíza. Já nas primeiras declarações, muitos familiares de dona Beatriz presentes na plateia do tribunal visivelmente se emocionavam e enxugavam as lágrimas.
Um dos pontos altos do julgamento foi durante a fala do acusado, que se pronunciou diante dos questionamentos da juíza, do promotor e dos seus advogados. Em todo o momento ele defendeu a tese de não ter cometido crime. Segundo Helenilson, no momento da morte da mãe, ele estava na rua, “fumando um baseado”. Na sua versão, ele voltou quando a casa já estava em chamas, entrou na casa, trancou o portão e depois não soube mais como abrir a estrutura de ferro. O tempo todo ele chamava as testemunhas de mentirosas.
Os familiares de Beatriz Rocha são categóricos ao afirmar que o acusado de ter matado a própria mãe a facadas sempre foi violento. Sua irmã mais nova, inclusive, lembra que ele já havia tentado matar também a facadas outro irmão e já havia a espancado. Helenilson e Hemistdan são dois dos seis filhos que dona Beatriz teve no decorrer de sua vida. São os dois mais novos.
“Ele sempre foi violento, desde criança, inclusive já tentou me matar. Na prisão ele nos ameaçava e disse que quando saísse eu seria a primeira a morrer” relatou a técnica de segurança do trabalho, de 44 anos. Segundo ela, após a tentativa de assassinato na qual foi vítima, a polícia foi acionada, mas o processo não foi adiante. A irmã de Helenilson diz que ele sempre foi defendido pela mãe, que buscava evitar ao máximo problemas entre os filhos.
O amor materno de dona Beatriz não permitia que ela deixasse sair de casa um filho viciado em maconha e cocaína, acusado pela família e vizinhos de extorsão e ameaças à ela. “Ela sempre disse que tinha que carregar essa cruz e que não deixaria filho nenhum desamparado”, lembra emocionado o neto de dona Beatriz, o professor Wilianypson Rodrigues, 42.
Fonte: Novo Jornal
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