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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Dibson Nasser toma posse e diz que “forças ocultas” querem lhe derrubar

Deputado afastado há um ano e meio de seu mandato, reassume vaga na Assembleia e revela trama misteriosa para impedir que ele conclua seu mandato.
Foto: Alberto Leandro
Foto: Alberto Leandro
O deputado estadual Dibson Nasser (PSDB) irrompeu o saguão de entrada da Assembleia Legislativa avançando como a aurora. Os passos largos e rápidos refletiam um furor interno. Posicionou-se à frente de repórteres com o lábio inferior tremendo. Uma têmpora latejava no canto superior esquerdo de seu rosto, quando ele abriu a boca para falar:

“Passei um ano e seis meses tentando voltar. Uma mutilação que fizeram comigo. Um processo árduo. Os maiores juristas comentavam que foi uma injustiça”, principiou, antes de retomar o fôlego e deixar visível toda à sua raiva. O tremor do lábio irradiou para o corpo todo, e um repórter de TV recuou antes que Dibson continuasse.

“Forças ocultas do Rio Grande do Norte tentam que eu passe pouco tempo aqui. Se eu passar cinco dias aqui, passo de alma lava. Fui alvo de politicagem, coisa de interior, não consigo nem descrever”.

Em menos de seis meses, Nasser é o segundo que recorre ao discurso de “forças ocultas”. A governadora Rosalba Ciarlini já o havia inaugurado para rebater quem, segundo ela, trabalha contra o Rio Grande do Norte. Assim como a governadora, Dibson não citou nomes, levando a reportagem a lhe pedir que jogasse luz sobre as forças ocultas.

“Você quer nomes?”, indagou pronto para arrotar uma nominata. Os repórteres voltaram a se aproximar do deputado, movidos pelo natural desejo de arrancar dali uma boa manchete. Em menos de dois segundos, entretanto, uma espécie de lampejo de sensatez atingiu o deputado, e ele recuou.

“Não posso citar nomes. Eu tenho filhos para criar. Tenho uma família para sustentar. Poderia ser facilmente atingido por quem está por trás de tudo isso”, declarou Nasser.
Disputa

A queda de Dibson ascendeu à Assembleia o suplente da coligação, José Adécio (DEM), que tem se empenhado em fazer com que Nasser não regresse à Assembleia. A disputa ganhou contornos dramáticos com um roteiro do que pode ser tráfico de influência dentro do Judiciário.

“Nesse tempo todo, tive uma fonte, uma boa fonte, que sempre me dizia o que ia acontecer com o meu processo. No dia em que ela dizia que ministro X do TSE ia pedir vistas, acontecia isso, e assim por diante”, revelou à reportagem.

Esse mesmo oráculo teria revelado os próximos passos. A trama é questionável pela quantidade de forças mobilizadas, mas é nela que Dibson acredita.

Segundo essa fonte, José Agripino pediu a Henrique Alves, para que esse peça à presidente Dilma Roussef, para que essa acione o ministro Dias Toffoli, para que esse derrube a liminar que permitiu a volta de Dibson à Assembleia. Tudo isso seria feito no plantão do TSE nos próximos dias.

Paralelamente a tudo isso, houve ainda o problema com o Diário Oficial do Estado (DOE), que nesta sexta-feira (4) não circulou como de costume, nem tampouco foi atualizado na internet. Coincidentemente, tal edição do DOE trazia a publicação da convocação de Dibson para ser empossado na Assembleia. Sem o ato tornado público, seria inviabilizada a posse.

“Queria até pedir à direção da Casa para contratar um gerador, porque temo que falte energia na hora da posse”, ironizou o deputado.

Solidão

Dibson Nasser foi destronado da Assembleia Legislativa em 1º de novembro de 2012. Em julgamento que passou longe da unanimidade (o placar foi de quatro a dois), o parlamentar teve o mandato cassado pela acusação de abuso de poder econômico. Desde então, ficou à margem do poder.

“Em meu aniversário, em maio, recebi oito mensagens de parabéns. No dia em que foi determinado o meu retorno, recebi mais de 300. É incrível o que o poder faz”, disse, negando que se sinta embriagado por ele.

Para sua posse, entretanto, o prestígio parece que ainda não se concretizou. Dois vereadores participaram da composição de fotos na sala da presidência da Assembleia, Ubaldo Fernandes e Dickson Nasser Júnior, irmão do deputado. Entre os pares da Assembleia, Gustavo Fernandes foi o único avistado antes da reportagem deixar a AL pelo saguão que tão rapidamente Dibson atravessou.

Relegado ao esquecimento, Dibson recorreu ao esporte. “Andei surfando”, comentou. “Foi para não cometer uma loucura”, acresentou o irmão, explicando que uma depressão tombou sobre o deputado. O pai, o ex-presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Dickson Nasser, também foi afetado. Ficou mais recluso, deixou de sair e quase abandonou a política.
Portal no Ar

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