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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Igreja sugere aproximação com gays

Vaticano (AE/ABr) - Um documento publicado ontem pelo Vaticano propõe maior aproximação da Igreja Católica com homossexuais, casais divorciados e casais que moram juntos mas não são casados. O texto é resultado do encontro de 200 bispos de todo o mundo com o papa Francisco, que ocorreu nas duas últimas semanas e discutiu questões que afligem famílias católicas, desde migrações forçadas até poligamia. No ano passado, o Vaticano distribuiu um longo questionário para dioceses espalhadas pelo mundo, no qual perguntou quais eram os maiores desafios enfrentados pelas famílias. Cerca de 84% dos bispos responderam que havia um grande repúdio à rejeição da Igreja ao casamento gay e ao controle de natalidade.
Gregorio Borgia/AP/ECPapa Francisco participa no Vaticano do  Sínodo Desafios Pastorais da Família, que será encerrado no próximo domingoPapa Francisco participa no Vaticano do Sínodo Desafios Pastorais da Família, que será encerrado no próximo domingo

“O papa Francisco foi muito claro ao dizer que havia duas diferentes demandas: os altos valores da Igreja e não julgar a vida das pessoas”, disse o cardeal britânico Vincent Nichols. Em 2013, no seu retorno ao Vaticano após passagem pelo Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, o pontífice foi questionado sobre os homossexuais. “Quem sou eu para julgá-los?”, respondeu Francisco, em seu primeiro sinal de aproximação com os gays.

No texto publicado ontem, o Vaticano diz que os “homossexuais têm dons e qualidades para oferecer à comunidade católica”. “Somos capazes de receber bem essas pessoas, garantir um ambiente fraternal em nossas comunidades?”, questiona o documento. Apesar da aproximação, o Vaticano reitera que permanece contra o casamento gay. No entanto, reconhece o “precioso suporte” que casais homossexuais podem oferecer a crianças. 

O secretário especial do sínodo, dom Bruno Forte, disse ontem que a Igreja não concorda que o termo ‘família’ possa ser aplicado tanto à união entre homossexuais quanto ao casamento de um homem e uma mulher. No entanto, ele diz ser evidente que as pessoas humanas envolvidas nesses vários tipos de experiência têm direitos que devem ser tutelados.

Para o bispo e teólogo italiano, o problema não é a equiparação pura e simples, inclusive terminológica, dessas famílias. “É preciso buscar uma codificação de direitos que possam ser assegurados a pessoas que vivem em uniões homossexuais. É uma questão de civilidade e de respeito à dignidade das pessoas”, disse ele.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o vaticanista John Travis classificou o documento como um “terremoto” na atitude da Santa Sé em relação aos gays. “O texto claramente reflete o desejo do papa Francisco em adotar uma postura pastoral mais misericordiosa em relação ao casamento e a outros assuntos familiares”, disse ele. 

O conteúdo do documento será a base das conversas da segunda e última semana da assembleia convocada pelo Papa Francisco. A nova postura também servirá de reflexão entre os católicos antes do Sínodo de 2015

O Sínodo Desafios Pastorais da Família, que termina no próximo domingo (19), reúne 191 padres. A partir desta quinta-feira, uma equipe formada por nove bispos redigirá o documento final do encontro que, depois de votado, será apresentado ao papa e enviado às conferências episcopais de todo o mundo para discussão pelas dioceses. Estas, por sua vez, deverão elaborar um informe que servirá para preparar o instrumento de trabalho para o Sínodo Ordinário sobre a Família, marcado para outubro do ano que vem.
Tribuna do Norte

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