Ao menos três estados brasileiros não têm mais vaga de UTI disponível para pacientes com Covid-19. Acre, Rondônia e Mato Grosso do Sul registram taxas de ocupação dos leitos de terapia intensiva maiores que 100%, segundo levantamento feito pelo GLOBO. Outros 14 estados estão com o índice acima de 90%: Amapá, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Além da falta de vagas para internar os doentes, a possibilidade de falta de oxigênio e de remédios usados na internação também preocupa gestores. Diante do cenário de colapso iminente, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) recomendou, por meio de nota divulgada nesta terça-feira (23) a suspensão das cirurgias eletivas (aquelas que não são emergenciais) até que o abastecimento dos remédios se estabilize, e o número de internações diminua.
Ainda segundo a recomendação do Conass, seriam mantidas as cirurgias eletivas inadiáveis, aquelas que se não forem realizadas podem causar dano permanente ao paciente, tais como as oncológicas, cardíacas e os transplantes de órgãos.
Dos estados que apresentam ocupação de mais de 90% dos leitos de UTI, sete deles também estão com dificuldade de manter o abastecimento de oxigênio, segundo ofício do Ministério da Saúde encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) na noite desta segunda-feira (22). São eles Acre, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Norte e Rondônia. A pasta informou que elaborou o Plano Oxigênio Brasil, que coloca ações em prática, como a redistribuição de materiais enviados a Manaus, com apoio do Governo do Amazonas e do Ministério da Defesa.
Municípios do Rio Grande do Norte têm alertado sobre problemas com o oxigênio desde o início da semana. Na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Cidade Satélite, Zona Sul de Natal, que já está lotada, um paciente passou parte da noite entre segunda-feira, 22, e esta terça-feira, 23, ligado a um ponto de oxigênio no lado externo da unidade de saúde. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde ao portal G1.
Pontos de oxigênio foram colocados nas áreas de embarque e desembarque das ambulâncias em todas as UPAs de Natal, para serem utilizados em caso de um “colapso de oxigênio”. Os pontos podem ser utilizados nas viaturas do Samu, se for necessário que o paciente fique em uma ambulância enquanto aguarda um leito. A Secretaria de Saúde de Natal informou que as unidades municipais têm medicação e oxigênio, as compras e abastecimentos são contínuos e não há nada que indique o desabastecimento.
São Paulo registra 1.021 mortes
Em São Paulo, pela primeira vez desde o início da pandemia, em março do ano passado, o estado registrou mais de mil óbitos por Covid-19 em apenas 24 horas. De acordo com a Secretaria de Saúde, foram identificadas 1.021 mortes. Com os números atualizados hoje, o estado soma, ao todo, 68.623 mortes em decorrência da doença. O estado alcançou a marca de 29.039 pacientes hospitalizados — 12.168 em terapia intensiva e 16.871 em enfermarias. A taxa de ocupação dos leitos de UTI é de 91,9%.
Depois que dez pacientes foram transferidos de uma UPA, na sexta-feira à noite, por falta de oxigênio, o Ministério Público abriu inquérito, nesta terça-feira, uma denúncia feita por funcionários do sistema de saúde de que três pacientes com Covid-19 morreram por falta do gás. A prefeitura nega os óbitos. Segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, houve duas mortes de outros pacientes na UPA naquele dia, mas eles não estavam entre aqueles que foram transferidos por falta de oxigênio.
Em todo o estado de Minas Gerais, segundo boletim atualizado, 647 pessoas, entre suspeitos e confirmados para Covid-19, aguardam internação em um leito de UTI. Atualmente, 2.525 pacientes estão internados em UTIs. Em enfermarias, o número é quase o dobro: 4.878. A taxa de ocupação de UTI para leitos exclusivos para Covid está em 94% em todo o estado.
Em nota, o governo mineiro confirma que o estado vive “cenário preocupante” em relação ao oxigênio, e que está fazendo um levantamento para identificar onde estão os maiores problemas de fornecimento no estado. O mesmo ocorre em relação aos medicamentos usados para intubação de pacientes, disse o governo. Até o momento, MG soma mais de 22 mil mortes em decorrência do coronavírus, com 3.558 óbitos só em março.
No Sul, mais de 1.600 aguardam transferência
Apenas na região Sul, são mais de 1.600 pacientes na fila de espera por um leito, a maior parte deles no Paraná que, nesta segunda-feira, registrou 988 pessoas aguardando transferência. Os três estados são os mais atingidos pelo pico de casos observados em todo o país: o Paraná tem 97% dos leitos ocupados, Santa Catarina tem 98% e de 96% no Rio Grande do Sul.
As autoridades dos três estados atribuem o aumento, principalmente, à introdução de uma nova variante no país, chamada de P.1. Segundo médicos, a variável pode ser mais transmissível e, possivelmente, mais agressiva. A lotação das unidades de saúde é perceptível principalmente pelo aumento do número de casos entre pacientes que não são idosos. No mês de fevereiro, as hospitalizações de pessoas abaixo de 60 anos no Paraná e em Santa Catarina superaram a de idosos, invertendo a tendência observada em janeiro.
A lotação de vagas gerou também uma preocupação para que não falte oxigênio e os chamados kits de intubação: para manter os pacientes em respiradores, é preciso administrar remédios como bloqueadores neuromusculares ou sedativos.
Em Santa Catarina, a Secretaria da Saúde admitiu que o consumo de oxigênio é elevado, mas garantiu que não existe a possibilidade de falta do insumo nas unidades hospitalares sob administração estadual. Segundo a pasta, nos primeiros nove dias de março foram consumidos o equivalente a quase duas vezes a média mensal de um destes medicamentos.
Fonte: O GLOBO
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