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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Cirurgia para devolver olfato perdido na Covid será testada em hospital público de Aracaju

Foto: GIL COHEN-MAGEN / AFP

Vencida a Covid, uma parte das pessoas que tiveram a doença pode enfrentar uma perda significativa para a sua qualidade de vida: a do olfato. A anosmia, nome dado a essa condição, tem sido tratada com fisioterapia e medicações, mas nem todos têm tido sucesso em revertê-la com esses tratamentos.

Essa observação foi o que motivou o médico Ronaldo Carvalho Jr. a pensar em outras maneiras de ajudar na recuperação desses pacientes. Ele, que é professor no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), está prestes agora a testar uma técnica cirúrgica para devolver a capacidade de sentir cheiros.

A iniciativa deve operar os primeiros voluntários no mês de abril. São cinco os primeiros interessados em passar pelo procedimento nesta fase experimental, conta o chefe da Unidade de Cabeça e Pescoço do HU-UFS, hospital que faz parte da Rede Ebserh/MEC, conjunto de 40 hospitais universitários federais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que é vinculada ao Ministério da Educação.

— Já há vários estudos na literatura internacional e nacional mostrando que 85% dos pacientes que têm Covid sintomática desenvolvem anosmia. Desses 85%, 30% vão ficar com uma hiposmia, que é não sentir os cheiros mais fortes, ou seja, ficam sem a mesma efetividade, e de 3% a 5% ficam com uma anosmia definitiva — conta o otorrinolaringologista, que trabalha no desenvolvimento da técnica ao lado de Alex Franco de Carvalho, médico especializado na microcirurgia de nervos periféricos.

A base para a operação que eles propõem está no conhecimento de cirurgias que já são feitas com sucesso para a anosmia provocada por outras causas.

— A mais frequente é o trauma cranioencefálico, mas a anosmia pode ser uma sequela também após a retirada de tumores de dentro do nariz que estão ocupando a região olfatória — explica Carvalho.

Nervo da perna é enxertado no rosto

O objetivo da cirurgia é transferir para a região da mucosa do nariz que está praticamente morta novos nervos que funcionem, daí o nome técnico de transferência nervosa. Para isso, os especialistas vão buscar na perna do paciente um nervo que possa ser enxertado no rosto.

— O nervo funcionante que a gente vai utilizar é um nervo supra-orbitrário, que é um ramo do nervo oftálmico. Como esse nervo supra-orbitrário é muito pequeno, muito curtinho, ele não chega até o nariz, então temos que interpor uma ponte nervosa, ou seja, usar um outro nervo. Então a gente vai pegar um nervinho da perna do paciente, um nervo sural funcionante — descreve.
Foto: divulgação

Essa retirada pode causar uma sensação temporária de dormência no pé, que deve passar com o tempo, tendo a sensibilidade do local compensada com o trabalho de outros nervos. A mesma coisa deve ocorrer na região do olho afetada no procedimento.

O local adequado para a “instalação” dessa ponte entre o nervo retirado da perna e o nervo da região dos olhos será encontrado pelos cirurgiões com o auxílio de técnicas de endoscopia.

Assim, por envolver o uso desses canos finos, a técnica é minimamente invasiva e deve deixar praticamente nenhuma cicatriz. O tempo de operação deve ficar entre cinco e seis horas, estimam os cientistas. Tudo exige muita delicadeza porque “os nervos, às vezes, são tão finos que não conseguimos ver a olho vivo, só no microscópio”, destaca Carvalho.

Fonte: O Globo

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