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terça-feira, 26 de abril de 2022

Dengue cresce 818% e Natal reconhece epidemia

Natal vive uma epidemia de dengue, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O aumento nos registros de casos da doença, que já chegou a 1.649 notificações em 2022, é suficiente para se caracterizar uma epidemia. O avanço também atinge os demais municípios do Estado. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, os dados apurados até 9 de abril de 2022 indicam aumentos um crescimento de 818% no número de casos de dengue em todo o RN em relação ao ano passado. No caso da zika, o aumento foi de 970% e da chikungunya, 162%.
MAGNUS NASCIMENTO
Este ano, o aumento nas notificações de dengue cresceram 336% na capital e 818% em todo o Estado, em relação a 2021

Em 2021, até a segunda semana de abril, foram registrados 435 casos prováveis de dengue, enquanto em 2022 são 3.995 no mesmo período, em todo o Estado. Os casos prováveis de chikungunya passaram de 570 para 1.494 casos prováveis, enquanto os de zika aumentaram de 39 casos prováveis no ano passado para 321 em 2022.

Em Natal, foram notificados 1.649 casos de arboviroses até o dia 22 de abril, contra 184 no mesmo período de 2021. Os números de dengue foram os que tiveram maior aumento de registros (336,91%), seguidos pelo crescimento nas notificações de zika (266,67%) e chikungunya (75%).

De acordo com a Secretaria de Saúde de Natal (SMS), os bairros de Pajuçara e Lagoa Azul, na zona Norte, bem como Pitimbu, na zona Sul, apresentam a maior incidência de casos. Segundo Vaneska Gadelha, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da SMS, atualmente pode-se dizer que Natal passa por uma epidemia de dengue, conforme definições da vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde.

Dessa forma, a epidemia é decretada quando há um aumento significativo de casos acima de três semanas consecutivas dentro de um gráfico chamado diagrama de controle. A cidade do Natal apresenta uma visível tendência de aumento há dez semanas epidemiológicas consecutivas.

“Conseguimos detectar esse quadro por bairros ou por distritos sanitários da cidade. Tivemos uma situação que foi bem específica no bairro de Pitimbu, por exemplo, que houve necessidade de parceria com a Secretaria do Estado de Saúde. Agora, os bairros de Pajuçara e Lagoa Azul também demonstram bastante adoecimento da população”, explica.

Os distritos sanitários Norte I, Sul e Oeste apresentam as maiores incidências de notificações de casos por cada 100 mil habitantes, respectivamente 33,35%, 31,33% e 19,13% do total da cidade. Em Pajuçara, são 306 casos prováveis de acordo com levantamento do Núcleo de Análise de Situação de Risco em Saúde. Os dados compreendem casos notificados até o dia 22 de abril.

No bairro de Lagoa Azul, foram registrados 236 casos prováveis. Em Pitimbu, 158 casos e nos bairros do Planalto e Felipe Camarão, foram 113 e 112. "Vemos que Candelária está apresentando um potencial bastante extensivo para entrar em um processo de epidemia. Também temos Neópolis, onde estamos fazendo uso da UBV portátil para cortar a cadeia de transmissão", diz a diretora da Secretaria de Saúde. Esse cenário, aliado a casos de gripe e covid-19, resultou na lotação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), assim como nos prontos-socorros dos principais hospitais privados de Natal , nas últimas semanas, com serviços sendo suspensos.

Secretaria de saúde promove ações educativas
Nesta segunda-feira (25), a SMS promoveu uma ação educativa na Unidade Básica de Saúde de Pajuçara, com orientação preventiva à população e uma caminhada de recolhimento de pneus. As atividades do tipo devem continuar até o dia 8 em pontos estratégicos da capital. “É uma forma bem lúdica de fazer esse chamamento a população de que a dengue mata e o Aedes pode estar dentro dos nossos lares. Passamos por um longo período de pandemia e esquecemos um pouco da prevenção da dengue, mas vemos atualmente uma grande procura da população acometida com essa arbovirose às nossas unidades de saúde”, aponta Vaneska.

Dianaldo Rodrigues, chefe de operações de campo do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), destacou a importância de um bom manejo ambiental das residências na cidade, principalmente frente as frequentes chuvas que contribuíram para o aumento nas notificações.

“Estamos fazendo o nosso trabalho de rotina que é a visita aos domicílios e pedimos que a população nos deixe entrar pois estamos enfrentando um pouco de resistência”, diz.

Conforme Dianaldo, o agente de endemia é o profissional técnico que pode identificar o foco de dengue e destruir-lo, evitando a proliferação de possível criadores. Por meio desse trabalho, são passadas instruções para que as pessoas possam ser multiplicadores desse combate em suas casas e vizinhança ao tampar a caixa d'água, não deixar acumular água parada em objetos, descartar entulhos e material orgânico de forma correta, bem como atentando-se aos vasos de plantas.

Neide Silva esteve na UBS de Pajuçara para completar seu esquema vacinal e reconheceu a importância do combate à dengue. “Tenho prestado muita atenção porque eu tive dengue na outra epidemia e passei muito, muito mal. Meu esposo, filha e genro também adoeceram. Moramos em Gramoré e todo dia passa o carro fumacê. Estamos fazendo o que a gente pode, limpando o nosso quintal e incentivando os vizinhos a fazerem o mesmo. Não adianta o próximo não colaborar, é para o bem da população”, comenta.

Do mesmo modo, Adriano Pereira foi vacinar sua filha e disse estar atento ao aumento nos casos de dengue. Residente do bairro de Lagoa Nova, também notou uma maior frequência do carro fumacê pelas ruas da região. “Eu faço de tudo para proteger minha família. Presto atenção na água parada dentro de casa e também em pneus”.

Sobre os cuidados necessários, a diretora Vaneska Gadelha orienta que não é somente tirar e trocar a água, mas também esfregar as bordas de cada depósito que contém reserva de água. “Temos que lembrar de vedar esses recipientes. Se não tiver tampa, providenciar isso e nunca deixar acumular água nessas situações. Caso sinta febre e dores pelo corpo, procure a unidade de saúde mais próxima para ter um diagnóstico precoce, tão importante para evitar as fases graves da doença”, finaliza.

Estudo vê danos cognitivos após a chikungunya
Em estudo publicado na revista Frontiers in Psychiatry, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da UFRN demonstraram, pela primeira vez, um declínio significativo dos processos cognitivos em idosos após chikungunya. Atualmente, são cerca de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária no país.

A partir de queixas de pacientes, a equipe de pesquisadores recrutou, entre outubro e dezembro de 2019, idosos voluntários que haviam sido acometidos pela doença chikungunya em Natal, na faixa etária entre 60 e 90 anos e com mais de quatro anos de educação formal.

Contando ainda com um grupo controle, no qual ninguém foi infectado pelo vírus, os cientistas promoveram um estudo transversal, por meio de avaliações clínicas, neuropsicológicas e geriátricas.

Causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), a febre chikungunya é uma doença articular incapacitante. Sua transmissão acontece pela picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, mesmos vetores da dengue, da Zika e da febre amarela.

Alguns dos principais sintomas na fase aguda da infecção são artrite grave, febre, calafrios, mialgia, dor de cabeça e pequenas lesões na pele. Em geral, a doença é autolimitada e a extinção dos sintomas varia de 5 a 14 dias, porém, em alguns casos, pacientes podem evoluir para um estágio crônico, no qual as dores articulares persistentes e incapacitantes levam meses ou até anos para passar.

Ao longo do período de pesquisa, enquanto a idade foi mantida constante, a infecção pelo vírus chikungunya foi associada a um aumento de 607,29% na chance de ter o desempenho cognitivo considerado prejudicado ou em declínio quando comparado ao grupo com os controles saudáveis.

“A significância estatística de tal associação foi confirmada pela robusta quantidade de evidências fornecidas pela amostra. Além disso, os dados mostraram que o risco de desempenho prejudicado no teste cognitivo aumentou à medida que tínhamos participantes mais velhos. Ou seja, cada incremento de um ano na idade dos participantes foi associado ao aumento de 7,242% na chance de apresentar desempenho deficiente no teste MoCA”, explica Katie Almondes, uma das autoras do artigo..

Fonte: Tribuna do Norte

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