Direção do Hospital Walfredo Gurgel explica que superlotação é causada por aumento do número de pacientes do interior - Foto: Alex Régis |
Mais de 60 médicos que prestam serviço nas UTIs dos hospitais Walfredo Gurgel, Maria Alice Fernandes e Santa Catarina podem paralisar as atividades nesta semana em virtude falta de pagamento do governo do estado. A informação é da Cooperativa dos Médicos do RN. Os profissionais ainda aguardam pagamento salarial do mês de junho de 2023 e uma reunião deve ser feita hoje (10) com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) para negociar o pagamento.
Ainda segundo a cooperativa, todos os contratos com o Governo do Estado estão em atraso. Isto é, profissionais da alta e média complexidade, médicos plantonistas, aqueles que atendem no SAMU, urgência e emergência, além daqueles atendem em UTIs pediátricas. Caso não ocorra o pagamento, a paralisação pode ser feita “a qualquer momento”, pontuou também.
Segundo diretor do Walfredo Gurgel, Tadeu Alencar, os médicos cooperados atuam na “porta do hospital”, ou seja, atendendo pacientes que chegam ao local por alguma emergência. Ele assegura, no entanto, que a população não sofreria com a paralisação, mas que os demais profissionais que assumissem a demanda extra ficariam sobrecarregados.
“Existem os médicos estatutários no Walfredo. Temos 2,8 mil funcionários. Então, quando há alguma dificuldade, os estatutários assumem essa questão. Já aconteceram paralisações e nenhum paciente deixou de ser atendido, apenas fica um pouco mais apertado. Mudaria para os profissionais que teriam que trabalhar mais”, comentou. O que o diretor não soube informar, no entanto, é a quantidade de serviços que podem ser afetados com a paralisação.
A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a Sesap para obter mais detalhes sobre o valor do débito e possíveis propostas de pagamento, mas recebeu apenas a confirmação da reunião desta terça-feira.
A ameaça de paralisação dos médicos acontece após um fim de semana caótico no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Segundo o diretor geral do Hospital, o médico Tadeu Alencar, o hospital ficou lotado e precisou transferir pacientes por falta de espaço. Ele assegura, contudo, que a situação foi resolvida e o número de pacientes no local voltou ao total de 360.
O diretor do Walfredo Gurgel esclarece que a maioria dos casos que chegaram no fim de semana foram de motociclistas acidentados, sob efeito de álcool e que não estavam usando capacete no momento do acidente. Apesar da unidade atender uma alta demanda de várias cidades, ele observa que boa parte dos pacientes eram do interior do Estado. Devido a falta de espaço para abarcar os casos que chegavam, 18 pessoas foram transferidas para o Deoclécio Marques, Hospital Memorial e Hospital João Machado.
A secretária-adjunta da Sesap, Leidiane Queiroz, afirma que atualmente algumas medidas já estão sendo tomadas para evitar uma nova superlotação. Entre elas, está a articulação prévia para promover o máximo de rotatividade de leitos da rede estadual, visando a possibilidade de vagas para receber os pacientes, além de projetos estruturantes voltados às portas hospitalares.
Em sua maioria, afirma a secretária-adjunta, a sobrecarga no Walfredo é gerada por municípios da 1º região de saúde, como Santo Antônio e Goianinha, somada aos problemas de regulação da porta hospitalar. “A gente precisa aumentar os nossos esforços desde a portaria. Nós já temos um hospital de acesso às portas hospitalares para dar suporte aos municípios para saber quem tem que vir, qual horário vem, ou se não vem. Infelizmente, nem todos respeitam esse processo de regulação e esse é um dos nossos principais problemas”, observa.
Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte (Sindsaúde/RN) reiterou o posicionamento da entidade de que o cenário enfrentado pelo Walfredo Gurgel é um reflexo da falta de investimentos nos hospitais regionais que compromete o funcionamento da rede de saúde do Estado. De acordo com denúncias relatadas ao Sindsaúde sobre a situação na manhã de segunda-feira (9), a sala de recuperação do Hospital está com 22 pacientes e três salas de cirurgia estão presas com usuários que precisam de leito de UTI.
“O politrauma, setor destinado a atendimentos de urgência, também está completamente lotado. Um dos corredores, com pacientes dos dois lados, abrigam alguns idosos, incluindo uma pessoa de 101 anos, outra de 89 anos e mais uma de 82 anos. Alguns deles estão com a maca baixa no chão. Dentro do CRO, sala de recuperação pós cirurgia, também existem diversas internações irregulares”, diz o Sindsaúde/RN em nota.
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