A turista argentina Gladys Vinci, de Buenos Aires, costuma atravessar a fronteira com o Brasil, junto com os netos. Em suas passagens pelo município de Itaqui, no Rio Grande do Sul, depois da travessia de balsa pelo rio Uruguai, a partir da cidade argentina de Alvear, ela já percebeu que é raro ver um policial federal fiscalizando a entrada de pessoas e mercadorias no lado brasileiro.
"Eu cruzo para o lado argentino com meus netos e a polícia argentina controla tudo. Qualquer pessoa que deixa ou ingressa no país, eles registram, inclusive as crianças. Já no Brasil, eles não estão nem aí. Vejo isso quando saio do Brasil com meu neto, que é menor de idade"
Gladys Vinci, turista de Buenos Aires.
"Se acontece algum acidente com um turista argentino em estrada brasileira, a vítima tem que retornar com urgência para a fronteira, porque nem sequer tem o registro de migração", acrescenta. "Há um certo relaxamento das polícias nestes postos."
Em defesa de seus colegas, o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, argumenta que o contingente de policiais federais para fiscalizar e combater o tráfico de drogas e outros crimes nas regiões de fronteira é muito reduzido.
"Temos um pouco mais de mil policiais atuando nas regiões de fronteiras. Mas isso não quer dizer que nós temos mil policiais nos postos de fronteira", diz Boudens, em entrevista ao UOL. "Em Foz do Iguaçu, por exemplo, tem uma delegacia, mas, nos postos de fronteira com Paraguai e Argentina, temos equipes de três ou quatro policiais por plantão."
De acordo com o presidente da Fenapef, uma das causas da grande defasagem do Brasil na fiscalização das fronteiras é o uso de policiais em atividades burocráticas.
"Temos duas lutas. Uma é triplicar o número de policiais na faixa de fronteira", afirma. "Mas nossa maior luta é que muitos policiais federais que estão cuidando de trabalhos burocráticos sejam destacados para a atividade de controle e fiscalização dos postos de fronteira, portos e aeroportos brasileiros."
"Infelizmente, não temos uma política nacional que visa a proteção das nossas fronteiras", critica Boudens. "Se você afrouxa neste tipo de fiscalização, quem te garante que, dentro do mesmo carro ou ônibus, não estão sendo sendo carregadas drogas e armas?"
O Brasil possui cerca de 17 mil km de fronteira terrestre. A Fenapef calcula que o efetivo total da Polícia Federal é de 11,2 mil pessoas --já os dados oficiais da instituição contabilizam 13,6 mil policiais, entre delegados, peritos, escrivães, agentes e papiloscopistas.
Coordenador de uma pesquisa, realizada entre 2012 e 2014, sobre a situação das fronteiras brasileiras, o sociólogo Michel Misse, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda com as críticas da Fenapef e também defende uma maior integração entre os órgãos envolvidos na vigilância das fronteiras.
"É essa integração que nos permite ter mais informações sobre o que se passa nos principais corredores da fronteira brasileira", afirma Misse. "É preciso haver integração não apenas entre a Polícia Federal, a Receita e a Polícia Rodoviária Federal, mas também uma maior sinergia entre o governo federal e os estados."
O pesquisador acrescenta que a extensão da fronteira terrestre do Brasil também dificulta a atuação das forças de segurança. "O tamanho da fronteira brasileira é quase metade da circunferência da Terra. Não é possível ter controle total sobre o que acontece nela. Nem os Estados Unidos conseguem controlar os quase 2 mil km de fronteira com o México", diz o professor da UFRJ. "É preciso focar nos principais corredores, com ações de inteligência.".
Fonte: noticias.uol.com.br
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