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domingo, 30 de janeiro de 2022

CAOS: Faltam 72 medicamentos na Unicat

A Central de Medicamentos do Estado (Unicat) enfrenta uma baixa significativa nos seus estoques. Ao todo, estão em falta 72 dos 185 medicamentos, geralmente fornecidos tanto pelo governo estadual como o federal. Para quem procura e precisa desse serviço, a situação chega a ser desesperadora. No atendimento prestado, a Unicat não apresentou para os pacientes nenhum prazo para reposição e nem motivo para a falta. A Secretaria de Saúde Pública (Sesap) informou que oito medicamentos devem ser recebidos até o final deste mês. Para os demais, a Sesap montou uma força-tarefa para agilizar os processos licitatórios.
Magnus Nascimento
Pacientes sofrem com o estoque baixo da Central de Medicamentos do Estado. Dos 72 medicamentos em falta, a Sesap esperava receber sete até o final de janeiro. Licitações são gargalo

Segundo o diretor técnico da Unicat, Thiago Vieira, o processo de licitação, em virtude da pandemia, tem atrasado bastante. “A maioria dos medicamentos são indexados ao dólar, muita variação cambial também é um especilho porque existe um limite de preço de venda ao governo. A nova onda da pandemia tem afastado muitos funcionários dos laboratórios, o que impacta na produção e disponibilidade. Isso tudo é uma gota a mais nos prazos que correm sob uma licitação, que já é um procedimento demorado. O próprio Ministério da Saúde teve dificuldade em concluir processos licitatórios”, explica.

A Unicat informou que os medicamentos Sirolimo 1mg e 2mg, Golimumabe, Entacapona 200mg, Tafamidis, Tacrolimo 5mg, Cinacalcete 30mg, Paracalcitol tem previsão de entrega até o dia 31 de janeiro. Para o Alfaepoetina 4000UI, a assinatura do novo contrato é prevista para até 31/01 com previsão contratual de entrega para 30 dias. Além disso, estimam que os processos referentes à Triptorrelina e Pancreatina devem ser concluídos até o final do mês de fevereiro. Contatado, o Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o atraso na entrega de medicamentos até o fechamento da matéria.

“Estamos tentando enxugar o processo de licitação. Hoje, a grande dificuldade que encontramos é conseguir fornecedores aptos porque os medicamentos que o Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) disponibiliza não são medicamentos que um paciente vai encontrar em uma farmácia, são medicamentos de alto custo e valor agregado. Em virtude disso, você tem menos fornecedores. Fora que compramos um quantitativo muito grande, muitas vezes você não tem o fornecedor e você não tem a quantidade que você precisa para conseguir fechar a licitação. A Secretaria tem estudado algumas maneiras de enxugar o processo e montamos uma força-tarefa para alavancar esses processos de licitação, não somente para os medicamentos do CEAF mas também para abastecimento hospitalar”, ressalta o diretor.

Falta de medicamentos
Alda Alves esteve cedo na unidade da Unicat no bairro do Tirol, zona Leste de Natal, para garantir o medicamento Alfapoetina 4000UI, necessário para o tratamento de saúde da sua mãe. No entanto, a notícia que recebeu durante o atendimento preocupou a família: o remédio não estava disponível. “A medicação já está faltando há dias e ela não pode ficar sem porque, devido a uma cirurgia que ela fez relacionada a um câncer, os rins dela estão paralisados. A data que eu tinha anotado para pegar foi essa, 21 de janeiro, e me falaram que não tem previsão de chegar. Não explicaram o porquê. Minha mãe tem 70 anos e não pode ficar sem essa medicação”, relata.

Segundo Alda, seis ampolas de Alfapoetina 4000UI custam em torno de R$1500 e não é fácil de encontrar. Sua mãe precisa de doze ampolas mensais, com o medicamento sendo administrado dia sim, dia não. A medicação é indicada para tratamento de anemia em casos de insuficiência renal crônica. “O médico explicou que é como se fosse um hormônio que mantêm os rins funcionando. Quando sente essa falta da medicação, ela tem muita anemia e tem que ir para a urgência tomar sangue. Com esse medicamento, ela não precisa fazer hemodiálise mas é perigoso ficar sem o remédio. Eu não sei como vai ser, quanto tempo vai demorar, meu medo agora é esse, fiquei preocupada. A última vez que eu peguei ele foi em 23 de dezembro, menos de um mês. Não tem previsão agora e me informaram que eu tenho que ficar ligando”, diz, sobre o problema.

O mesmo aconteceu com Maria Eugênia da Silva que vem mensalmente de Lagoa das Pedras buscar dois medicamentos para sua mãe, dona Josefa. O primeiro, Leflunomida 20mg, estava disponível, mas a injeção Golimumabe 50 mg estava em falta pelo segundo mês seguido. Josefa sofre com artrite reumatoide, condição crônica e degenerativa que causa inflamação em todas as articulações do corpo. Eugênia relatou que a falta do medicamento fez com que sua mãe entrasse em crise, impossibilitada de trabalhar e realizar tarefas básicas.

“Diariamente, eu olho no site onde eles fazem a atualização e também duas vezes na semana ligo pra cá mas eles não dão previsão de nada e eu fico só no aguardo mesmo. Esse medicamento está na faixa dos R$4000, é uma injeção por mês. Não temos condição de comprar, ficamos no aguardo do sistema público mesmo. Faz dois meses e com o passar desse tempo ela vai só vai piorando, sentindo muita dor. A artrite é medida por uma taxa mas como não está recebendo a medicação completa, ela não consegue fazer coisas simples como lavar uma louça, não consegue ficar muito tempo em pé. Além da dor, ela diz que fica muito quente pela inflamação”, desabafa Eugênia.

Defensoria Pública orienta população
As pessoas que necessitam de um dos medicamentos que estão em falta podem procurar o atendimento da Defensoria Pública do Estado (DPE). Segundo a instituição, dez atendimentos do tipo foram registrados nesse mês de janeiro. Todos foram encaminhados para abertura de processo na DPE e também na Defensoria Pública da União.

Caso já tenham, devem levar a declaração de que o medicamento está em falta, além da receita e demais documentos pessoais. Outra opção consiste no programa SUS Mediado que busca mediar ações na área de saúde e conta com a parceria da Unicat. Em Natal, o programa funciona presencialmente nas terças, das 8h às 12h, na Unidade I, Av Senador Salgado Filho, 2868B, Lagoa Nova.

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