Bate-papo - Alceu Valença
Cantor e compositor
Alceu, em outras ocasiões você disse ter um show para cada período do ano. Além do repertório clássico, o “Carnavalença” também traz músicas do novo disco “Amigo da Arte”?
O show e o disco têm em comum a minha paixão pelos gêneros essenciais do Carnaval pernambucano. Ambos são inteiramente dedicados ao maracatu, à ciranda, aos caboclinhos e, claro, ao frevo em suas diversas vertentes: do frevo de rua ao frevo de bloco, e o frevo canção. No disco mostro canções inéditas ou pouco conhecidas, mas também apresento músicas famosas com um arranjo diferente. É o caso de “Frevo Número 1”, um clássico de Antônio Maria que eu nunca havia gravado, e que cantei agora ao lado da portuguesa Carminho. Dentre as inéditas estão “Frevo da Lua”, que lancei antes apenas no meu site, e o “Frevo Dengoso”. Algumas músicas deste CD também aparecem no show de Carnaval como “Frevo da Lua”, “Pirata José” e “O Homem da Meia-Noite” – o primeiro frevo que compus, com Carlos Fernando para o projeto “Asas da América”. Acabei de lançar o clipe dessa música no YouTube (ow.ly/u3EBw) e já está bombando nas redes sociais.
“Amigo da Arte” é dedicado ao compositor Carlos Fernando, falecido em 2013, uma das primeiras pessoas que te incentivou a cantar frevos. Ele é o ‘amigo da arte’ da vez?
Eu havia gravado as bases deste disco há alguns anos, em Recife, mas acabei me dedicando muito ao meu filme (“A Luneta do Tempo”) neste período e o disco ficou guardado. Com a morte de Carlos Fernando, resolvi lançar o álbum com alguns acréscimos. O disco é uma homenagem a ele e ao “Asas da América”, projeto que revitalizou o frevo em todo o Brasil. Carlinhos sempre foi um grande amigo da arte.
Afinal, o que faz do Carnaval brasileiro ser tão especial?
A alegria dos foliões e a riqueza da nossa identidade cultural que é especialmente representada durante o Carnaval. Pena que hoje em dia esta mesma identidade venha sendo dilapidada por armações de mercado e interesses comerciais que afastam o Carnaval da sua essência, que é o povo brincando nas ruas e celebrando sua própria Cultura.
Essa mercantilização da folia diminui a espontaneidade da festa?
O Carnaval tem características diferentes de um canto para o outro do país. A cultura dos trios elétricos é muito importante na Bahia, mas ela não tem nada a ver, por exemplo, com as características básicas do Carnaval do Rio de Janeiro, que fez a sua história através do samba e das marchinhas. Em Pernambuco, é frevo, maracatu, ciranda, caboclinho, os gêneros da Zona da Mata que constituem a personalidade do nosso povo. É claro que há uma invasão de diversos outros estilos, mas o pernambucano de uma maneira geral valoriza suas coisas.
E qual o tipo de Carnaval que mais te agrada: bandas de frevo pé no chão; trio elétrico; shows de palco; ou um pouco de tudo isso junto?
O carnaval é livre. Só acho que determinadas características devem ser preservadas. A diversidade é a nossa riqueza essencial.
Novidades sobre seu filme? Já tem data definida para lançamento?
O filme está pronto, todo montado e finalizado. Estamos avaliando algumas propostas para participar de festivais de cinema no exterior, mas a ideia é lançar “A Luneta do Tempo” no Brasil ainda este ano.
E aquele projeto de fazer um documentário sobre sua trajetória, como anda?
O documentário é uma ideia de Yanê Montenegro, minha mulher e empresária, e enfoca os primeiros anos de minha vida e carreira: desde minha infância em São Bento do Una até meu exílio voluntário em Paris, em 1979, onde compus “Coração Bobo”, que me abriu as portas para o sucesso. Gravamos as primeiras cenas agora em Paris. É um documentário poético e musical, como tudo o que faço.
Tribuna do Norte
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