O desembargador aposentado Osvaldo Cruz rompeu o silêncio que sobre ele tombou desde que o escândalo dos precatórios eclodiu, em janeiro de 2012, e falou pela primeira vez sobre os eventos que resultaram em sua saída do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. “São três anos de constrangimento. Só Deus sabe o que eu e minha família temos passado por causa de uma menta doentia e de inspiração satânica que caiu no tribunal quando eu o presidi”, declarou ele à reportagem do portalnoar.com.
A declaração foi dada nos corredores do Fórum Seabra Fagundes, aonde Cruz fui para ouvir três testemunhas arroladas pelo Ministério Público Estadual na instrução do processo criminal do qual Osvaldo é parte. Também estava presente à audiência o desembargador aposentado Rafael Godeiro. Ambos foram acusados por Carla Ubarana, ex-chefe do setor de precatórios que desviou R$ 14,1 milhões e acusou os ex-magistrados de também se beneficiarem do esquema quando presidiram o TJRN, entre 2007 e 2011.
“Eu nunca contribui para esse desfecho. Me pus calado por orientação do advogado. Mas há muito tempo que tenho vontade de dizer as coisas e não podia. Mas não quero ser interpretado ou que haja interpretação disso ou daquilo que venha interferir no processo”, disse ele, que prosseguiu, veemente: “Reafirmo: essa mulher nunca foi na minha casa, eu nunca fui na casa dela. Ela nunca telefonou para mim. Eu nunca telefonei para ela. Só uma mente doentia como a dela, que agora diz que está esquecida das coisas”.
Osvaldo diz que não se deixou abater durante esse tempo em que vem enfrentando o caso. “Não tive depressão. Tive indignação, com pessoas querendo acusar sem provas. Acho isso doentio da parte daquela mlher. Tudo para favorecê-la, em uma delação reconhecida 50 dias depois de ter sido feita”, criticou o magistrado, referindo-se à delação premiada que Carla celebrou com o Ministério Público, o que lhe rendeu redução da pena, fechada em 10 anos, quatro meses e três dias. O marido dela, George Leal, também foi condenado, e cumpre pena de seis anos, quatro meses e 22 dias no regime semiaberto.
Em junho do ano passado, o Conselho Nacional de Justiça aposentou compulsoriamente os dois magistrados envolvidos no escândalo. Instado pela reportagem a comentar a decisão do CNJ, Osvaldo pontuou que foi um ato político.
“Foi uma decisão no CNJ de caráter político. Havia uma tendência, que foi revertida e depois aplicaram o entendimento de negligência. Como posso ter sido negligente com o erário público? Você administra um tribunal com 500 cargos de confiança e tem uma funcionária que se presume de ótima qualificação, inclusive com o reconhecimento do CNJ, e depois ela se torna uma larápia dessas”, criticou o ex-magistrado.
As oitivas do processo nº 0104903-66.2014.8.20.0001 desta segunda-feira foram de servidores do TJRN que trabalharam com Carla Ubarana, são eles: Lisiane Martins de Medeiros, Elton John Marques e Roberta Veríssimo de Oliveira. Eles afirmaram que jamais viram Carla manusear envelopes pardos. Ao MPRN, a ex-chefe do setor de precatório informou que levava dinheiro aos desembargadores nesses envelopes.
As testemunhas afirmaram ainda que os magistrados não iam a sala de Carla e que, até onde eles observavam, esta só ia à presidência do TJRN para tratar do que eles supunham serem os despachos do setor.
Portal no Ar
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