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domingo, 10 de janeiro de 2016

"Acho que não vou ter tanta dificuldade", diz potiguar calouro do ITA

Quase todo mundo sonha com a aprovação no vestibular, o ingresso no ensino superior e o início de uma carreira promissora. Esse também é o desejo do estudante potiguar Victor Raniery, que desde muito cedo possuí esses objetivos bem traçados na mente. A diferença é que, em uma fase na qual a maioria está apenas começando a se preocupar com o futuro, sem saber ainda ao certo que rumo seguir profissionalmente, o adolescente já deu um importante passo em busca daquilo que tanto anseia.

Com apenas 15 anos de idade, o garoto conquistou uma das 140 vagas para estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), considerado uma das melhores instituições de nível superior do país. Exatamente por isso, o vestibular que aprova novos alunos para os cursos de engenharia ligados ao setor aeroespacial, oferecidos pelo estabelecimento de ensino do Comando da Aeronáutica, é bastante concorrido e também um dos mais difíceis do Brasil.

Somente no ano passado, quando Victor conseguiu a aprovação, mais de 12 mil estudantes concorriam às vagas abertas em seis cursos de graduação: engenharia mecânica-aeronáutica, engenharia eletrônica, engenharia da computação, engenharia aeroespacial, engenharia civil-aeronáutica e engenharia aeronáutica. Ao todo, eram 90 inscritos disputando cada vaga (o maior número de candidatos já registrado pelo instituto, que existe desde 1950).

Entre os milhares de candidatos todo o país que buscavam ingressar no ITA, porém, poucos encontravam-se na mesma faixa etária do jovem natalense. Em geral, a maioria dos inscritos no vestibular da instituição é formada por estudantes recém-saídos do ensino médio ou que já tentaram a sorte outras vezes, mas não obtiveram sucesso.

Victor, no entanto, é um adolescente no qual adjetivos como “prodígio” e “gênio” caem como uma luva. Aos 12 anos de idade, ele já cursava Mecatrônica no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), após uma disputa judicial lhe permitir pular o nono ano do ensino fundamental. Mesmo gostando das aulas, o garoto conta que decidiu abandonar o curso para poder dedicar-se integralmente ao vestibular do ITA. 

“Eu fiz até teste vocacional, antes de entrar no IFRN, que mostrou que essa é mesmo minha área: mecânica e mecatrônica. Mas vi que preferia ser engenheiro a ser técnico, então comecei a me preparar para a prova quando ainda estava no segundo ano [do ensino médio]”, diz o menino, que escolheu Engenharia Mecânica-Aeronáutica para cursar no ITA.

Com apoio da família, o estudante mudou de escola, terminando o segundo grau em um colégio particular da cidade. Enquanto assistia as aulas normais do terceiro ano, ele complementava os estudos frequentando cursinhos preparatórios e fazendo simulados, por conta própria, em casa.

Por ser bem mais jovem que os demais inscritos no processo seletivo, Victor Raniery chama a atenção. Ele não reivindica para si o título de “estudante mais novo a passar no vestibular do ITA”, mas também não recorda de nenhum outro que fora aprovado com a mesma idade que tinha ao fazer as provas, aplicadas entre os dias 16 e 18 de dezembro passado: 15 anos e oito meses.

Ansiedade

Agora que o resultado tão esperado veio o ITA não divulga a colocação dos candidatos, apenas se eles foram aprovados ou não), a ansiedade do garoto é pelo início das aulas de graduação, marcado para 17 de janeiro, com uma palestra para os novos calouros. Victor acredita que não terá muitas dificuldades para acompanhar o ritmo das disciplinas, uma vez que seus conhecimentos foram testados e validados no vestibular.

“Acho que não vou ter tanta dificuldade. Claro, o curso de engenharia não é fácil, mas a preparação para o ITA também é difícil”, acredita.

Quando o estudante recebeu a reportagem do NOVO, no apartamento onde mora com os pais e o irmão, três malas repousavam em um canto escondido da sala, ao lado do sofá. O jovem já está com praticamente tudo pronto para a viagem que fará no próximo dia 15 de janeiro, até a cidade paulista de São José dos Campos, onde está localizada a sede do ITA. Durante os cinco anos do curso, o campus será sua casa, uma vez que a instituição concede alojamento e alimentação para todos os alunos.

Mesmo com a pouca idade, o sucesso de Victor na prova, que atesta conhecimentos avançados em disciplinas como Química, Física e Matemática, não pegou os pais totalmente de surpresa. Eles contam que sempre confiaram na capacidade do filho e que sua determinação nos estudos apenas reforçava essa convicção. “Apoio da família, boa escola e interesse do aluno em passar. Não vejo como dar outro resultado”, comenta, orgulhoso, Volney Holanda, pai do futuro engenheiro de mecânica de aviação.
Fonte: Novo Jornal


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Destaque desde a infância

O recorte de jornal, emoldurado e exposto sobre a estante da sala, denuncia o orgulho que os pais de Victor Raniery sentem do filho. A edição do NOVO daquele dia 24 de fevereiro de 2013 é guardada como um troféu pelo consultor jurídico Volney Holanda e a pedagoga Roseneide Maria.

A reportagem publicada há quase três anos destaca o pequeno “Gênio da Mecatrônica” e foi feita quando o menino passou em primeiro lugar no exame seletivo do IFRN, na época ainda com 12 anos de idade.

A aprovação, que devia ser motivo de felicidade para a família, acabou se transformando em dor de cabeça quando a Secretaria de Educação do Estado tentou impedir que o estudante fosse matriculado na instituição de ensino. A alegação era a de que Victor ainda não tinha atingido a idade mínima de 15 anos exigida para poder cursar o ensino médio.

Os pais do jovem foram buscar na justiça uma solução para o problema. O imbróglio apenas foi resolvido quando o juiz Geraldo Mota, da 3ª Vara da Fazenda Pública de Natal, determinou que o garoto fosse submetido a um teste de conhecimentos do ensino fundamental. Caso fosse aprovado, a avaliação serviria como prova da capacidade de Victor para avançar de série.

Em uma única manhã, o menino fez uma prova de 280 questões mais redação. O resultado foi de 93% de acerto, com 260 respostas certas e uma nota 6 na dissertação. Com isso, o jovem pode ingressar no curso de Mecatrônica do IFRN, o qual ele acabaria deixando dois anos depois para dedicar-se ao ITA. Com pleno sucesso.

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