A exposição “Quando a pele incendeia a memória – Nasce um fotógrafo no sertão do século XIX”, aberta de 06 a 28 de setembro, no Natal Shopping, trará a público pela primeira vez parte da obra de José Ezelino da Costa (1889-1952), homem negro caicoense, fotógrafo, que fez os primeiros registros da sociedade seridoense de sua época – incluindo aqueles que não costumavam ser registrados. A exposição, que tem curadoria de Ângela Almeida e expografia de Rafael Campos e Michelle Holanda, contará com 40 fotografias.
Auto-retrato de José Ezelino em arte de Ângela Almeida |
Os retratos revelam a identidade social da cultura negra local, através das fotos de familiares e amigos de José Ezelino, além do dia a dia da região do Seridó, cuja sociedade da época era predominantemente branca, comandada por uma elite de coronéis e fazendeiros. Ângela Almeida contou com o apoio da sobrinha-neta do retratista, a arquiteta Ana Zélia Moreira, que apresentou o álbum de família, herança deixada por sua mãe.
Paralela à exposição, Ângela também reuniu as imagens em um livro que será distribuído a instituições e um textos que recontam a história de Ezelino. A proposta é tornar a exposição itinerante, inclusive em Caicó, cidade natal do artista. A importância histórica do legado de José Ezelino reside nos pequenos detalhes estéticos e sociais de sua fotografia. O livro foi publicado com recursos da Lei Djalma Maranhão e Prefeitura de Natal, com patrocínio do Morada da Paz. A edição é da edufrn.
Um pioneirismo silencioso, que agora vem à tona publicamente. “Não podemos afirmar que José Ezelino quisesse revelar alguma espécie de racismo sobre sua condição de negro ou sobre a sociedade que vivia. Entretanto, podemos perceber que ele provocou por meio de sua fotografia, uma imagem forte de identidade social”, disse Ângela, contrapondo-se à tendência do Seridó em exaltar suas ascendências européias, e ignorar as demais. José Ezelino ressurge, um século depois, para tornar a história potiguar menos monocromática.
Filho de escrava alforriada e pai desconhecido, Ezelino contrariou padrões e tendências da época: nascido no final do século 19, no seio de uma sociedade de predominância branca, tornou-se fotógrafo profissional e músico. Autodidata, tocava violino e saxofone, aprendeu a revelar as próprias fotos a partir de manuais, criou uma banda de jazz e participava de recitais de música sacra. Como se não bastasse fez, muito provavelmente, os primeiros retratos de negros no Rio Grande do Norte no início do século 20.
Parte do acervo de José Ezelino (1889-1952) se perdeu no tempo, outra parte foi usurpada logo após seu falecimento, e o que sobrou está sob a guarda da sobrinha-neta Ana Zélia Maria Moreira.
Serviço:
Exposição Quando a Pele Incendeia s Memória – Nasce um Fotógrafo no Sertão do Século XIX, por Ângela Almeida. De 06 a 28 de setembro, no Natal Shopping.
Fonte: http://blog.tribunadonorte.com.br/blogdoviver
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