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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Estudante de arquitetura de 93 anos se adapta ao ensino remoto

(crédito: Lume e Algar/ Inspire Fundo)
Carlos Augusto Manço está no terceiro ano do curso, mas sente falta da convivência diária com colegas e professores. Conheça essa história de superação.

Desde que começou a graduação em arquitetura com 90 anos, a história de Carlos Augusto Manço ganhou espaço em diversos veículos e foi tema de um vídeo do projeto “Inspire Fundo” da empresa Algar Telecom. Agora, aos 93 anos, o estudante finaliza o terceiro ano do curso, cada dia mais adaptado ao formato de aulas virtuais.

Carlos Augusto é natural de Ribeirão Preto (SP), onde mora até hoje e faz a sua graduação. Ele tem formação técnica em edificações e concluiu o curso profissionalizante em 1958.

Após finalizar o curso técnico, ele começou a atuar em uma empresa do ramo de águas por cinco anos. Depois, ele trabalhou na Universidade de São Paulo (USP) junto a um engenheiro arquiteto, onde ficou até se aposentar há cerca de 40 anos. Durante esse tempo, Carlos Augusto colaborava como desenhista nos projetos.

Ingresso em arquitetura
Antes de se aposentar, Carlos Augusto entrou no curso de matemática na Faculdade Barão de Mauá. No entanto, ele decidiu deixar a graduação para outro momento, pois trabalhava na época e era difícil conciliar a profissão com a demanda de estudos.

Depois de mais de 40 anos aposentado, Carlos voltou a estudar, dessa vez, ele escolheu a graduação em arquitetura para aperfeiçoar a sua profissão. “Decidi fazer para ter uma autonomia já que não posso me envolver com outros empregos, queria trabalhar sozinho como arquiteto.”, conta.

Com isso, Carlos Augusto fez o vestibular para ingressar na faculdade. Ele conta que, pouco antes de fazer a prova e a redação, leu no jornal sobre um movimento de literatura que um grupo de alunos de uma escola de Ribeirão Preto fizeram.

Os estudantes escreveram textos e o tema de uma das produções foi cobrado na prova de redação de Carlos. “Eu li aquele negócio no jornal e pensei: ‘nossa senhora, se cair algo assim na prova, eu estou zerado’. Porque eu imaginei a capacidade da menina em escrever sobre aquele assunto”, declara.

“De fato, quando cheguei para fazer a prova na faculdade, era esse o tema e falei: ‘nossa senhora’. Consegui lembrar de umas coisas da redação da menina e aí me deram uma nota mais ou menos. E eu fui aceito na escola”. Depois, Carlos transferiu a graduação para o Centro Universitário Moura Lacerda, onde está finalizando o terceiro ano do curso.

Migração para ensino remoto
Em decorrência da pandemia de covid-19, as aulas de Carlos Augusto migraram para o virtual. Ele conta que, depois de um ano nesse sistema, está mais adaptado ao ensino remoto.

O estudante tem o auxílio da neta, Isabella Bucci, 38, para acompanhar as atividades da faculdade. Carlos tem o suporte dela desde o início da graduação, ela o levava para a faculdade, buscava saber quais trabalhos e atividades ele tinha e que precisaria usar a internet ou digitar no computador.

Com o ensino remoto, a neta passou a ajudá-lo a usar o sistema da faculdade, ensinando ver o horário, o calendário acadêmico e como entrar nas aulas. Com o tempo, ele pegou a prática e afirma que se adaptou bem ao formato.

ara ele, a rotina de estudo tendo as aulas em casa é mais tranquila, já que não precisa se descolar à faculdade. Além disso, Carlos Augusto acorda por volta de 4h30 e 5h , entre esse horário e o início das aulas, ele costuma fazer as atividades de desenho e leituras sobre o conteúdo das matérias.

Antes, nesse período do início da manhã, ele não conseguia estudar, pois tinha que ir para a faculdade. Então, fazia isso durante à tarde e à noite. Em um futuro retorno às aulas presenciais, Carlos Augusto afirma que vai sentir falta de poder ficar em casa e fazer a graduação ao mesmo tempo. “Aprender em casa talvez seja mais gostoso”, declara.

Mas, a neta Isabella pondera, “dentro de casa é mais complicado, pois você faz tudo no mesmo ambiente. Você não sai. Então, conversamos com o meu avô para ele dar um descanso, sair da frente do computador. Ficar muito tempo on-line também prejudica a visão e cansa a cabeça”.

Além disso, Carlos Augusto salienta a falta que sente de estar com os colegas e professores por causa do aprendizado e da convivência. “Pelo computador você não consegue captar todas as informações. Tem vantagens e desvantagens. A vibração escolar é diferente, pois temos uma facilidade de entender e compreender a matéria que estamos assistindo”, afirma.
A neta de Carlos Augusto, Isabella Bucci, auxilia e apoio ao avô na graduação. Ela é formada em turismo e gastronomia(foto: Arquivo Pessoal)
Planos para futuro
A previsão de conclusão da graduação de Carlos Augusto é para 2023. Isabella conta que toda a família e amigos estão ansiosos para a festa de formatura do estudante de arquitetura.

No entanto, Carlos prefere pensar em um projeto que está desenvolvendo com colegas do curso. Principalmente, nesse momento de pandemia em que precisa manter o isolamento social.

“Eu desvio o mal-estar causado (pela covid-19) para o projeto. Assim, meu pensamento fica sempre ‘sarado de doença’”, explica. “Mas não é fácil, quando você tem dor é terrível. Eu não tenho nada de dor, mas o pouco que eu tenho é terrível. Mas quem não tem dor, não tem noção de quanto, aonde e como dói”, pondera.

No projeto que Carlos Augusto participa com o grupo da faculdade, ele faz os detalhamentos dos desenhos dos integrantes, as normas que são exigidas e a apresentação do projeto. “Eu não me intrometo no trabalho deles, faço essa parte que é um pouquinho mais complicada para eles. Mas eu não me envolvi no projeto, eu estou me encaixando”, detalha.

Além disso, o estudante diz que quer aprender a desenhar pelo computador. Ele chegou a ter aulas na faculdade, mas afirma que precisa mexer com os programas com calma para saber manuseá-los. Com isso, Carlos Augusto também tem o desejo de executar projetos individuais.

“Talvez eu trabalhe por conta minha com um desenhista e um arquiteto. Para dar também oportunidade de os ajudar na profissão. Você se forma e tem muita teoria, não tem uma prática mais contundente”, pontua.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/

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